Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Atos pró-democracia revelam nudez institucional
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Quando a posteridade puder falar sobre 2022 sem receio de ser alvejada por um morteiro de Bolsonaro, dirá que 11 de agosto foi uma data historicamente trágica. Um dia em que pessoas e entidades representativas da sociedade brasileira se uniram para denunciar que uma democracia relativa é tão inaceitável quanto uma ditadura absoluta.
É enganosa a percepção segundo a qual os atos irradiados a partir da Faculdade de Direito da USP são sinais de vitalidade institucional. Se os manifestos e as marchas em defesa da democracia e do Estado de Direito servem para alguma coisa é para demonstrar que as instituições estão nuas no Brasil.
Na ditadura absoluta havia três poderes: Exército, Marinha e Aeronáutica. Na democracia relativa há quatro: Executivo, Legislativo, Judiciário e o orçamento secreto, uma versão pós-moderna de mensalões e petrolões. O poder do dinheiro funciona junto com os outros "Poderes". Mas também pode funcionar à revelia deles.
A perversão comprou na Câmara o engavetamento de 140 pedidos de impeachment. No Senado, remunerou a aprovação do nome de um procurador-geral sem vocação para procurar. Superblindado, Bolsonaro deixou de sofrer de insanidade. Passou a desfrutar cada segundo dela. Sob ataque, o Judiciário prende súditos como Jeffersons e Silveiras. Mas poupa a família real.
O ato do Largo de São Francisco, reedição de um grito de resistência que soou há 45 anos, chega a 52 dias da eleição. Demorou porque, hipnotizada pela nudez institucional, a plateia esperava pelo sinal de que a encrenca terminal que empurraria a democracia para o abismo estava próxima. O encontro em que Bolsonaro reuniu sete dezenas de embaixadores no Alvorada para informar ao mundo que o Brasil tornou-se uma república bananeira presidida por um psicopresidente ressuscitou o ponto de exclamação que se escuta quando as pessoas dizem "não é possível!", "basta!"
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