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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Campanha de Bolsonaro vê 'sabotagem' em vazamento de plano de Guedes

Colunista do UOL

20/10/2022 22h02

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A publicação de notícia sobre um plano econômico de Paulo Guedes, a ser anunciado depois do segundo turno da corrida presidencial, produziu um curto-circuito no comitê da reeleição. Revelado pela Folha, o plano do Ministério da Economia prevê salário mínimo e aposentadorias sem correção pela inflação.

Em condições normais, a proposta seria apenas impopular. No meio de uma campanha eleitoral em que o adversário promete reajustar o salário mínimo acima da inflação, o vazamento do plano tóxico foi visto como um "suicídio político". O episódio foi classificado por um dos caciques da campanha como "sabotagem".

O deputado André Janones, chefe do departamento de manipulações eletrônicas da campanha de Lula, correu para o Ministério da Economia. Munido de celular, realizou uma transmissão ao vivo. Posicionado sob o letreiro do ministério, declarou: "O ministro Paulo Guedes acaba de anunciar a redução no valor do salário mínimo, aposentadorias, pensões a partir de 2023..."

Guedes não estava no prédio. Viajara para o Rio de Janeiro. Alheio à ausência, Janones encomendou aos seus seguidores o compartilhamento do vídeo. A conversão do Ministério da Economia em fornecedor de munição para a campanha adversária transtornou a cúpula do comitê da reeleição. A irritação foi compartilhada com Bolsonaro.

Pressionado, Paulo Guedes apressou-se em classificar de "fake news" a hipótese de eliminação do repasse da corrosão inflacionária para o salário mínimo e as aposentadorias. "Não se muda a regra do jogo durante o jogo. O jogo está correndo", disse o ministro.

Não há na campanha nem no governo quem duvide da existência do plano. O próprio Paulo Guedes confirmou, a sua maneira, o que tentava negar. Defendeu um velho sonho. Está contido no documento do ministério. Batizado de "regra dos 3D", visa desindexar, desvincular e desobrigar o Orçamento federal, que está 96% acorrentado a gastos obrigatórios. A pretensão vem de 2019. Ficou no gogó.

"Esses estudos sempre foram feitos", declarou Guedes. "Aí, vai chegar a época da eleição: 'Ah, eles querem cortar o salário'. Isso é manipulação política. Se isso for para ser feito, não é escondido. Tem de ser publicamente debatido, aberto. Evidentemente, não faremos isso, chegar e mudar a regra para prejudicar o trabalhador".

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