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Josias de Souza

REPORTAGEM

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Bolsonaristas são orientados a dissociar Bolsonaro de atos antidemocráticos

Colunista do UOL

08/11/2022 09h31

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Surgiu nos fundões das redes bolsonaristas e nos acampamentos montados defronte de prédios do Exército uma evidência de que tem gato gordo na tuba dos atos golpistas. Trata-se de um conjunto de "novas regras" a serem observadas pelos devotos do presidente "nas manifestações e nas redes sociais". O sentido geral das orientações é o de dissociar Bolsonaro dos atos que questionam a vitória de Lula. A ideia é tratar o movimento como algo surgido espontaneamente, em defesa do Brasil.

As novas orientações esclarecem o que está "proibido" e o que é "autorizado". O rol de proibições inclui "blusas de Bolsonaro", menções ao nome do presidente e o uso de palavras e expressões como "mito", "capitão", "intervenção militar" e "Deus acima de tudo, Brasil acima de todos". No rodapé, há uma anotação: "Estamos lutando pelo país, já não diz respeito ao presidente."

A lista daquilo que é expressamente autorizado anota "camisa do Brasil", "bandeira do Brasil", "cantar o hino nacional" e repetir mantras como "ordem e progresso", "lei e ordem" e "Salvem o Brasil, Forças Armadas."

Ironicamente, uma operação do tipo GLO, de garantia da lei e da ordem, só poderia ser aplicada a este caso na hipótese de convocação dos militares para dissuadir uma balbúrdia antidemocrática que fugisse ao controle das forças convencionais de segurança.

Em vez de distanciar Bolsonaro da algazarra, o lote de orientações distribuídas aos manifestantes reforça a suspeita de que a contestação antidemocrática tem inspiração presidencial. Bolsonaro já declarou um par de vezes que a insatisfação é justificável. Seus filhos insuflam o movimento nas redes sociais.

Resta saber se há real disposição para investigar a confluência de interesses entre quem leva o gato para a tuba e quem financia a estridência do miado golpista.