Lula cutuca o feminismo com o pé para verificar se ele morde
Durante a campanha e na fase de composição do governo, Lula casou-se com a tese da valorização do papel das mulheres na sociedade. Eleito, homenageou o majoritário eleitorado feminino com uma representação feminina minoritária na Esplanada. Entregou a mulheres 11 dos 37 ministérios —ou 29,7% das vagas do primeiro escalão. Decorridos seis meses, Lula cultiva um relacionamento paralelo com o centrão, terceirizando aos oligarcas do grupo a humilhação de mulheres acomodadas em postos de comando.
Em maio, o Planalto avalizou nos bastidores manobras do centrão que resultaram na lipoaspiração de prerrogativas de Marina Silva e de Sonia Guajajara. As pastas do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas foram esvaziadas na votação da medida provisória que repaginou a Esplanada. Agora, o centrão empurrou outras quatro mulheres para dentro do caldeirão em que fervilha a reforma prematura de um governo recém-empossado.
Lula resgatou da fervura apenas uma ministra. Disse que Nísia Trindade permanecerá na chefia da Saúde. No Turismo, já trocou a ineficiência feminina de Daniela Carneiro pela inépcia masculina de Celso Sabino. Ana Moser e Rita Serrano foram mantidas no caldeirão —uma ferve no Ministério dos Esportes. Outra, na chefia da Caixa Econômica Federal. Indefesas, enxergam nas bolhinhas que se formam ao redor a imagem dos homens que o centrão escalou para substituí-las.
Um pedaço do PT e dos movimentos sociais que se preocupam com a encrenca de gênero ruminavam a esperança de que Lula indicasse uma mulher para a vaga de Rosa Weber, que vai pendurar a toga do Supremo em outubro. Questionado a respeito em entrevista à Rercord, Lula fugiu do compromisso: "Pode ser uma mulher, pode ser homem, pode ser um negro. Vai depender."
Ao cogitar a substituição de um tailleur por um terno numa Corte em que a representação feminina já está reduzida a 18% —duas magistradas num plenário de onze— Lula age como se desejasse cutucar o feminismo com o pé para ver se ele morde. O movimento demora a reagir. Logo, logo talvez considere a hipótese de acionar contra Lula a Lei Maria da Penha.
13 comentários
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Marco Aurelio Orlando
O eleitor do Lula é igual marido traído... o último a enxergar... isso quando enxerga... Prometeu não indicar amigos ao STF e colocou o advogado dele no STF. Prometeu acabar com orçamento secreto e usou para comprar votos para aprovar seu advogado no STF. Usou novamente orçamento secreto para comprar votos para aprovar a reforma tributária.. ( e essa vai prejudicar demais o setor de serviços ). Prometeu reduzir impostos e subiu vários impostos. Prometeu presença feminina no governo e está tirando o espaço das mulheres. Prometeu defender a democracia, agora fala que democracia é relativa, recebe o Maduro com honras de Estado e no discurso no Foro de São Paulo, alega que fica orgulhoso quando o chamam de comunista... Falta o que para vocês acordarem ????
André Jamil Zamur
Entendo alguns aspectos do feminismo. É algo a se construir a maior presença das mulheres em todos os campos. Há campos, inclusive, em que a atuação das mulheres é majoritária. Mas, o tempo todo, elevar esse fator à condição primeira ou primordial na escolha de pessoas, me parece algo forçado. Por exemplo: se eu fosse hoje escolher alguém pra fazer uma cirurgia delicada em mim, dentre as pessoas disponíveis vou procurar escolher quem eu considere aquela que pode resolver melhor o meu problema. Não vou ficar olhando primariamente se é homem ou mulher. O exagero do politicamente correto o faz virar mera politicagem; podendo, inclusive, virar também puro e simples preconceito às avessas. E como essa modinha cansa... Novas realidades devem ser construídas a passos consistentes, não a fórceps, nem a passes de mágica. Por outro lado, se critérios objetivos de competência e coerência de pensamento apontarem uma mulher, seja bem-vinda.
Luiz Wanderley Tavares
Foram eleitos 4 vezes antes ... e o povo não aprende. Uma pena. O país padece pela falta de caráter do seu povo. Um povo que elege sem aprender com o passado, merece passar por uma dor maior do que já sofrida. Faz um L, Josias, você defendeu a reeleição dele.