PCC virou o elefante da eleição
Na campanha eleitoral de São Paulo, o Primeiro Comando da Capital ganhou um protagonismo de elefante. Nada pode estar mais presente na conjuntura do que um elefante. O PCC tornou-se a definição mais eloquente da coisa que está, inegavelmente, em cena, e sobre a qual nenhuma desconversa é possível.
A descoberta de que Milton Leite, o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, é locador de imóveis para uma "lavanderia" do PCC compõe esse quadro. A construtora de Leite recebeu R$ 20 milhões em alugueis da empresa de Ônibus Transwolff, suspeita de lavar dinheiro do PCC em contratos com a prefeitura.
Cacique da tribo do União Brasil, Leite cogitou lançar-se candidato à prefeitura. Não colou. Cobiçou a vaga de vice na chapa de Ricardo Nunes. Perdeu para o coronel Mello Araújo, preferido de Bolsonaro.
A despeito de tudo, Milton Leite empurrou o seu União Brasil para o colo de Ricardo Nunes, o prefeito que não viu o elefante dentro dos contratos de concessão do transporte público municipal. Agora, o partido acena para Pablo Marçal, o candidato que avança cavalgando o PRTB, um partido com a tromba de fora.
Fiador da candidatura de Marçal, Leonardo Avalanche, presidente do PRTB, foi gravado gabando-se dos vínculos com o PCC. Parceiros de Avalanche na cúpula do partido, Tarcísio Escobar e Júlio César Pereira, o Gordão, foram indiciados em inquérito policial por fazer negócios com a facção.
A infiltração do crime na política não é coisa nova. O que escandaliza em São Paulo é a normalidade com que as coisas acontecem. Candidato à reeleição, o prefeito não move um dedo para desalojar o PCC dos contratos com a prefeitura. Alega que ainda não houve condenação. Investigado, Milton Leite continua sendo tratado como um tecelão da política. E Marçal, a despeito da tromba, cresce.
Noutros tempos, era difícil separar o legítimo do ilegítimo em matéria de lobby na política. No caso do PCC, essa distinção vai se tornando mais simples. O espírito da privatização conquistou o crime organizado. Certos políticos atuam como homens de negócio. Partidos incertos agem como paraísos fiscais que têm o crime organizado como sócio.
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