Josias de Souza

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Opinião

Lula se finge de morto diante de achados da PF sobre emendas

O inquérito que investiga a liberação das famigeradas emendas parlamentares no Dnocs foi enviado pela Polícia Federal, nesta semana, ao Supremo Tribunal Federal. Significa dizer que os investigadores detectaram as digitais de suspeitos que exercem mandato no Congresso Nacional na investigação que envolve contratos de R$ 1,4 bilhão.

O epicentro do escândalo localiza-se no Dnocs da Bahia. Já se sabia que a apuração da PF havia esbarrado nos nomes de políticos com mandato federal. Mas não havia provas que justificassem a remessa do inquérito ao Supremo. Sabe-se agora que os indícios apareceram. O fato deveria ser celebrado. É sempre desagradável dar de cara com a podridão. Causa revolta. Mas o desmascaramento de algo ilícito oferece a oportunidade de correção de rumos.

Um detalhe impede a celebração do trabalho da PF. Um mês depois das batidas policiais que penduraram nas manchetes o caso Departamento Nacional de Obras contra as Secas, o coordenador do órgão na Bahia, Rafael Guimarães de Carvalho permanece no cargo. Fingindo-se de morto, Lula se absteve de ordenar sua exoneração. Ignora o fato de que o personagem foi gravado pela PF num diálogo vadio travado num carro com um dos empreiteiros enrolados na suspeita de desvios.

Ironicamente, o ministro Flávio Dino, acomodado no Supremo por indicação de Lula, citou os desvios do Dnocs no despacho em que bloqueou, em dezembro, o pagamento de R$ 4,2 bilhões em emendas de comissão aprovadas no apagar das luzes do ano Legislativo de 2024 sem o aval das comissões da Câmara. Dino fez referência às "malas de dinheiro sendo apreendidas em aviões, cofres, armários ou jogadas pela janela" durante as batidas da PF.

A encrenca do Dnocs é apenas uma ínfima parte da emendocracia que converte a democracia brasileira num regime cleptocrata. Lula se esquiva de afastar da poltrona também o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, indiciado pela PF no ano passado por corrupção e lavagem de dinheiro em outro caso de desvio de emendas que brotou na gestão Bolsonaro, no estado do Maranhão.

Juscelino é filiado ao União Brasil. O mesmo partido emerge como protagonista na investigação do Dnocs. Alheio à bandalheira, o Planalto discute a sério a hipótese de ampliar a presença da legenda na Esplanada. Submetido a uma quantidade absurda de escândalos na liberação de verbas federais —um gerando outro, um atropelando outro, uns se multiplicando em outros— o contribuinte brasileiro é empurrado para o desânimo. A inação de Lula potencializa o cansaço.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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