Josmar Jozino

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Polícia levou cinegrafista em ação na casa da família de chefe do PCC em SP

Aconteceu três anos atrás. Era final de uma madrugada quente de verão. Familiares de um preso tido como um dos chefes do PCC (Primeiro Comando da Capital), a maior facção criminosa do Brasil, dormiam tranquilamente em uma casa num condomínio de classe média em São Paulo.

O sogro do presidiário estava em um quarto, a sogra em outro, e a cunhada em um terceiro aposento. A mulher do integrante da facção criminosa repousava na cama com a criança caçula. Os outros filhos também dormiam.

"É polícia!" O sono da mulher foi bruscamente interrompido com os berros de um investigador. Ela acordou assustada, ainda sem entender nada, com uma arma de longo alcance apontada para a cabeça. Os gritos despertaram os demais moradores. Todos ficaram em pânico.

O investigador e outros agentes, incluindo um delegado da Polícia Civil, foram ao endereço com a missão de dar cumprimento a um mandado de busca e apreensão autorizado pela Justiça de São Paulo.

A família é investigada por suposto envolvimento com o crime organizado, mas sempre alegou inocência.

Segundo relatos da mulher do preso, narrados à reportagem por uma fonte, a entrada policial no imóvel não foi nada pacífica. Um dos agentes pulou o muro da residência e depois usou chave micha para arrombar uma das portas e ter acesso à casa.

Um dos policiais subiu ao andar superior e foi direto para o quarto da mulher do presidiário. O pai, a mãe e a irmã dela também foram surpreendidos e se assustaram com a abordagem. Um dos filhos do prisioneiro ficou em choque e não parou de chorar.

Ele foi usado como escudo por um dos agentes e levado sob a mira de um fuzil para outro quarto. A tia fez apelo ao investigador para que não apontasse a arma em direção ao sobrinho. "É apenas uma criança", implorou. E a mãe suplicou: "Pelo amor de Deus baixa essa arma".

Escondido na viatura

Todos foram conduzidos ao térreo. Tiveram de permanecer sentados no sofá. Só depois disso a cunhada do preso foi autorizada a abrir a porta para um delegado. Foi nesse momento que ele leu os termos do mandado de busca e apreensão no imóvel.

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Os policiais reviraram a casa inteira à procura de possíveis provas contra os investigados. Abriram gavetas e armários. Revistaram tudo. Olharam até debaixo dos colchões. Nem os livros foram poupados. Apreenderam diversos objetos.

De acordo com a fonte da reportagem, nos relatos a mulher do preso contou que o "espetáculo" ainda não havia acabado.

Ela disse que, para sua surpresa, um cinegrafista entrou no condomínio escondido em uma viatura da polícia, já que a portaria do residencial tinha barrado a presença da imprensa.

A mulher narrou que um dos policiais era o mais agressivo e perguntava insistentemente onde estava escondido o dinheiro do marido dela. "Cadê a caixa d'água? Eu sei que a grana está escondida lá", dizia o agente aos familiares do preso. Ela respondeu que não tinha um centavo dele.

A fonte não soube dizer à reportagem os nomes dos policiais civis envolvidos na ação, nem o departamento em que atuavam. Ela informou, no entanto, que o processo contra a família do detento continua em andamento em uma vara criminal de São Paulo.

Os familiares do preso disseram ter ficado traumatizados com o episódio. Os filhos do casal quase foram expulsos da escola. Os vizinhos cortaram a amizade com todos.

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A mulher disse à fonte que até hoje acorda assustada em casa, no final da madrugada, temendo outra invasão policial.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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