Mil dias driblando as polícias: fuga de André do Rap completa três anos
Quando tomava banho de sol com os presos mais perigosos da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP) — todos integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) —, o narcotraficante André Oliveira Macedo, 46, o André do Rap, cansou de dizer que antes do Natal de 2020 estaria livre.
E foi exatamente o que aconteceu no dia 10 de outubro daquele ano. André do Rap passou mesmo as festas de fim de ano bem longe das grades. Antes de sair pela porta da frente do presídio, ele foi de cela em cela no pavilhão 1 da unidade e se despediu dos prisioneiros. Os comparsas o ovacionaram.
O traficante internacional de drogas, acusado de mandar toneladas de cocaína para a Europa via porto de Santos e condenado a 15 anos e seis meses, vestia calça e camisa brancas. Câmeras de segurança da penitenciária registraram os momentos da despedida dele.
O criminoso estava preso desde 14 de setembro de 2019, quando foi capturado em uma mansão em Angra dos Reis, litoral sul fluminense, por policiais civis do Rio de Janeiro e São Paulo. Ele ficou na cadeia quase por 13 meses.
André do Rap foi solto graças a um habeas corpus concedido pelo então ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello. Poucas horas depois de sair em liberdade, o ministro Luís Fux, também da Suprema Corte, cassou o alvará de soltura.
Mas já era tarde. O narcotraficante deixou a cidade de Presidente Venceslau e seguiu em direção ao Paraná. Começou a enganar as autoridades logo na saída da prisão, pois ao assinar o documento de soltura, mencionou como endereço a rua Júlio Inácio de Freitas, 1, Vicente de Carvalho, Guarujá (SP).
Desde aquela manhã de 10 de outubro de 2020, André do Rap vem driblando e humilhando as forças policiais. A fuga dele vai completar três anos na próxima semana. O nome do narcotraficante foi incluído até na lista de foragidos da Interpol, a Polícia Internacional.
Nos meios policiais há comentários de que André do Rap já veio várias vezes para o Brasil, de helicóptero, principalmente para a Baixada Santista, participar de festas e de aniversários de parentes e amigos ligados ao PCC. Ele completou 46 anos na última terça-feira (3).
Bens milionários devolvidos
No Brasil, há três mandados de prisão contra ele pendentes de cumprimento. Dois deles — no TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) e 5ª Vara Federal de Santos) — são por tráfico internacional de drogas. Já na 3ª Câmara Criminal do Rio de Janeiro ele responde a processo por lavagem de dinheiro.
O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), subordinado ao MP-SP (Ministério Público do estado de São Paulo), acredita que André do Rap esteja foragido na Colômbia ou na Bolívia e que continua atuando na exportação de cocaína para a Europa.
Promotores de Justiça afirmam que o criminoso tem ligações com o PCC e a máfia italiana Ndrangheta. Em abril deste ano, a Justiça mandou devolver ao criminoso um helicóptero de R$ 7,2 milhões, uma embarcação de R$ 5,2 milhões, dois luxuosos imóveis em Angra, um Porsche, quatro jet-skis, quatro computadores e 33 aparelhos de telefone celular.
Os bens tinham sido apreendidos e bloqueados durante a prisão dele em setembro de 2019 em uma das mansões na costa verde fluminense. No entendimento da 6ª Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça), houve ilegalidade na ação de policiais civis de São Paulo que o prenderam.
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Quero receberAnderson Domingues e Áureo Tupinambá, advogados de André Oliveira Macedo, ressaltam que "no momento oportuno a inocência do cliente será devidamente comprovada, sendo certo que os processos continuam em andamento nos tribunais superiores".
Os defensores afirmam ainda que "no mesmo sentido serão demonstradas as nulidades ocorridas na Operação Oversea", que investigou André do Rap por narcotráfico. Os advogados sustentam também que "o cliente não tem qualquer sentença condenatória definitiva em seu desfavor".
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