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Josmar Jozino

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Reportagem

Mãe perdeu 4 filhos em guerras do PCC; último era testemunha protegida

Maria, vendedora autônoma, tinha quatro filhos. Segundo a mulher, todos possuíam envolvimento com o PCC (Primeiro Comando da Capital) e foram assassinados. O último, fruto do relacionamento dela com um escrivão classe especial da Polícia Civil de São Paulo, era testemunha protegida.

Márcio José de Alcântara Theodorelli, 38, o São-Paulino, integrava o alto escalão do PCC. Saiu em liberdade e foi colocado em um programa de proteção após delatar comparsas de crime de Osasco, Barueri e Jandira, municípios da região metropolitana de São Paulo.

O pai dele, o escrivão José Francisco de Almeida Theodorelli era um policial civil exemplar e bem-conceituado entre os colegas da corporação. Ele sofreu muito pelo filho ter escolhido o caminho do crime e ingressado no PCC. Adoeceu de tanto desgosto e morreu em 27 de junho de 2016.

Após as delações, São-Paulino foi orientado a se mudar para Brasília e ter uma vida discreta. Ele prometeu cumprir o acordo. Levou a filha menor e a mulher Priscila de Jesus Salomão, 34, irmã de Patrick Uelinton Salomão, 44, o Forjado, apontado como o principal chefe do PCC em liberdade.

O casal e a filha ficaram escondidos durante anos no Planalto Central do país, mas sempre fugindo dos inimigos da facção criminosa. Algumas vezes, se refugiavam em Brasília. Outras, no Novo Gama, em Goiás. "Meu filho andava igual a cigano, de canto em canto", contou Maria à polícia.

Caçada implacável

O PCC havia condenado São-Paulino à morte e não desistiu de caçá-lo. Descobriu que ele morava no Novo Gama. A facção recrutou quatro homens para matá-lo. Um deles foi ao cartório extrajudicial da cidade, em 17 de dezembro de 2017, e se apresentou como advogado.

O falsário falou com um atendente e alegou que procurava uma mulher de nome Priscila de Jesus Salomão porque ela era herdeira de imóveis e outros bens em São Paulo e precisa localizá-la com certa urgência para fazer um inventário.

O funcionário respondeu que a pessoa mais indicada para encontrar Priscila era a mulher dele. Ela trabalhava no Vapt Vupt do Novo Gama, um órgão do governo de Goiás, responsável por ampliar o acesso dos cidadãos às informações e serviços públicos, como emissões de documentos.

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O falso advogado foi com outro comparsa ao posto do Vapt Vupt. Eles ofereceram R$ 6.000 à mulher do funcionário do cartório para ajudá-los a achar Priscila. Disseram que ela era dona de uma herança milionária. A dupla recebeu a informação que precisava.

Os dois integrantes do PCC foram avisados que Priscila e o marido iriam retirar a CNH no posto do Vapt Vupt entre os dias 5 a 8 de janeiro de 2018. Outros dois integrantes do bando fizeram campana no local, mas se apresentaram como policiais civis à procura de uma estelionatária.

Mandou matar até a irmã, disse MP

No dia 8 de janeiro de 2018, São-Paulino e a irmã de Forjado foram ao Vapt Vupt buscar a documentação. O casal, em seguida, caminhou até uma loja de telefonia na mesma rua, no bairro Pedregal, onde sofreu a emboscada. Marido e mulher foram mortos com vários tiros.

O comparsa do falso advogado, identificado como Robson Barreto da Silva, tentou fugir, entrou em uma van, mas acabou detido por policiais militares. O falsário José Roberto de Sá foi capturado posteriormente. Ambos foram reconhecidos por testemunhas. Os dois comparsas deles escaparam.

No dia do crime, Forjado estava preso com líderes do PCC na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP). Na época, os rumores no MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) eram de que ele mesmo havia mandado matar São-Paulino e a própria irmã. Essa versão não ficou comprovada.

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Quando era egresso do sistema prisional paulista, São-paulino foi o principal responsável pelo setor financeiro do PCC. Ele foi acusado ter comandado os ataques da facção contra as forças de segurança em São Paulo em maio de 2006 e terminou preso em Campinas em abril de 2011.

Em 2013, o MP-SP denunciou São-Paulino e outros 174 integrantes do PCC por formação de quadrilha. Depois disso, o preso passou a colaborar com a polícia e com promotores de Justiça. Foi solto, mas abandonou o programa de proteção em 2016. Ele e o cunhado Forjado eram parceiros de crime.

Reportagem

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