Josmar Jozino

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Reportagem

'Prisão-sede' do PCC em SP já teve canivete, punhal, farda e 591 celulares

A Polícia Civil quer saber como os presos da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP) tiveram acesso a um canivete Columbia e a um afiado punhal artesanal, feito com ferro, usados para matar dois detentos acusados de tramar a morte do senador Sergio Moro (União Brasil-PR).

Janeferson Aparecido Mariano Gomes, o Nefo, e Reginaldo Oliveira Sousa, o Ré, ambos de 48 anos, foram mortos no último dia 17, no pavilhão 1 da unidade, durante o banho de sol. Quatro presos foram indiciados pelo duplo homicídio e tiveram a prisão preventiva decretada.

Um inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias do crime. As armas brancas foram apreendidas. Há quem diga que o canivete usado na matança era de um agente do GIR (Grupo de Intervenção Rápida) e foi perdido durante uma blitz no presídio. Ninguém confirma essa versão oficialmente.

A SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) informou por meio de nota que "está em andamento uma apuração interna sobre os fatos".

Para o governo de São Paulo, a P2 de Venceslau sempre foi uma unidade de segurança máxima. Mas para o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), a penitenciária ainda é a prisão-sede do PCC (Primeiro Comando da Capital) e não tem condições de abrigar líderes da facção criminosa.

Esse foi um dos motivos para o promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) de Presidente Prudente, pedir à Justiça a remoção da liderança do PCC para presídios federais. A medida foi colocada em prática em fevereiro de 2019.

A prisão-sede do PCC vem registrando, ao longo dos anos, um histórico de fatos inusitados e vexatórios que colocam em xeque a sua condição de penitenciária de segurança máxima. Um desses episódios ocorreu no início de fevereiro de 2009.

Um celular para cada preso

Dois agentes do antigo Depen (Departamento Penitenciário Nacional) realizaram varredura no presídio, usando equipamento israelense, e detectaram que havia 591 telefones celulares em poder dos 820 prisioneiros à época. Era quase a média de um aparelho para cada detento.

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Em outubro de 2014, dois presos do PCC quase escaparam usando uniforme simular ao do GIR, a tropa de choque do sistema prisional. O fardamento foi confeccionado pelos detentos com peças íntimas femininas e outras roupas tingidas.

A dupla de prisioneiros vestidos com o uniforme similar ao do GIR e armados com espetos de ferro conseguiu sair do Pavilhão 1 e rendeu dois agentes penitenciários, tomando posteriormente o rádio de um dos funcionários.

Os presidiários e os reféns passaram pelo setor de enfermaria, onde outro agente e uma enfermeira também acabaram dominados. Todos seguiram em direção ao corredor da administração. Os detentos chegaram até o portão da muralha. Apenas um agente penitenciário cuidava da vigilância naquele local.

Lá, ambos ameaçaram matar os reféns, caso não tivessem acesso ao setor. O guarda mostrou-se irredutível. Os verdadeiros agentes do GIR foram acionados e conseguiram dominar os dois prisioneiros. Eles eram líderes da facção criminosa.

Já no último dia 17, os presos Luís Fernando Baron Versalli, 53, Ronaldo Arquimedes Marinho, 53, Jaime Paulino de Oliveira, 46, e Elidan Silva Ceu, 45, foram flagrados matando Nefo e Ré, a mando do PCC. Nenhum deles contou como teve acesso ao canivete Columbia e ao punhal artesanal.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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