Josmar Jozino

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Reportagem

Rivais de Marcola iriam explodir prédio do antigo Depen em Brasília, diz PF

Roberto Soriano, 50, o Tiriça, Abel Pachedo de Andrade, 49, o Vida Loka, e Wanderson Nilton de Paula Lima, 45, o Andinho planejaram explodir o prédio do antigo Depen (Departamento Penitenciário Nacional) em 2018, quando ainda eram líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital).

No mês passado, o trio foi expulso do PCC e condenado à morte pela "sintonia final" (cúpula) da organização criminosa, depois de chamar de delator Marco Willians Herbas Camacho, 56, o Marcola, apontado pelas forças de segurança como o número 1 da facção.

Segundo investigações da Polícia Federal, o plano para explodir prédios públicos e sequestrar autoridades importantes teve início em junho de 2017, em conversas de Vida Loka com Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, na Penitenciária Federal de Mossoró (RN).

Chefe do CV (Comando Vermelho), criado no Rio de Janeiro, Beira-Mar disse a Vida Loka, quando ambos estavam em celas de castigo, que era necessário cometer ações violentas nas ruas para desestabilizar o SPF (Sistema Penitenciário Federal) e ter atendidas as reivindicações dos presos.

Beira-Mar lembrou que em 2001 foi capturado na selva colombiana e citou as ações criminosas das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), como explosões de torres de transmissão em áreas industriais e sequestros de pessoas importantes do governo.

No diálogo com Vida Loka, Beira-Mar contou que as Farc cometiam os atentados para conseguir a transferência dos prisioneiros de presídios de segurança máxima para unidades de segurança mínima, onde os procedimentos de disciplina eram mais brandos.

Posteriormente, Vida Loka foi transferido para a Penitenciária Federal de Porto Velho (RO). As investigações da PF apontaram que, naquela unidade, ele compartilhou as ideias de Beira-Mar com os comparsas Tiriça e Andinho e propôs o planejamento de uma ação mais ousada ainda.

Carro-bomba com 50 kg de explosivos

A proposta era colocar um carro-bomba, com 50 kg de explosivos C-4, um dos mais potentes, na garagem do antigo prédio do Depen (Departamento Penitenciário Nacional), hoje chamado de Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais). Dentro do veículo haveria um envelope contendo uma lista com 10 reivindicações.

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As mais importantes eram visita social de 5 horas nos presídios federais; visita íntima semanal de três horas; extinção da visita em parlatório para parentes até de 2º grau; visita virtual quinzenal de duas horas; prazo máximo de permanência no SPF de dois anos e acesso a rádio e TV nas celas.

Uma ligação anônima seria feita para o esquadrão antibomba da Polícia Federal, comunicando a localização do carro com os explosivos. O telefonema partiria de alguma cidade onde o CV tinha forte reduto, para passar a ideia de que o atentado não seria cometido pelo PCC, mas pelo grupo rival.

Na lista de reivindicações, endereçada ao diretor do Depen, seria mencionado ainda que, caso as exigências não fossem atendidas em um prazo de 30 dias, outros carros-bomba iriam explodir nos cinco principais centros financeiros do Brasil.

O setor de inteligência do Depen descobriu o plano, chamado de "Pé de Borracha", e encontrou bilhetes com os detalhes das ações nas caixas de esgoto das celas dos envolvidos. Os agentes apuraram que as mensagens seriam levadas às ruas por mulheres de outros detentos.

O MPF (Ministério Público Federal) denunciou os envolvidos à Justiça Federal de Rondônia, pelo crime de associação à organização criminosa.

Estopim do racha

No início de 2018, quando o Depen e a Polícia Federal frustraram os planos de Tiriça, Vida Loka e Andinho, o líder máximo Marcola encontrava-se recolhido na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP) e o PCC ainda não estava rachado.

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Desde o mês passado, a facção enfrenta uma das maiores crises de sua história em 30 anos de existência. O estopim do conflito foi uma conversa gravada entre Marcola e policiais penais na Penitenciária Federal de Porto Velho, em 15 de junho de 2022.

Segundo a PF, Marcola atribuiu a Tiriça atentados contra agentes públicos e o chamou de psicopata. O áudio foi usado no júri que condenou Tiriça a 31 anos e seis meses de prisão pelo assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo, da Penitenciária Federal de Catanduvas (PR), em maio de 2017.

Tiriça, Vida Loka, e Andinho, tiveram acesso à gravação e chamaram Marcola de delator. Os três decidiram expulsá-lo da facção e o juraram de morte.

A "sintonia final" ouviu o áudio e concluiu que Marcola não fez nada de errado. A cúpula do PCC divulgou um comunicado para os faccionados presos e em liberdade informando que Tiriça, Vida Loka e Andinho estavam excluídos da organização e jurados de morte por calúnia e traição.

Marcola e os rivais Tiriça, Andinho e Vida Loka estão presos atualmente na Penitenciária Federal de Brasília.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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