Josmar Jozino

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Reportagem

Caso Gritzbach: Delegado e policiais delatados são presos em operação da PF

O delegado Fábio Baena Martin, os investigadores Eduardo Lopes Monteiro, Rogério de Almeida Felício, Marcelo Ruggieri, Marcelo Bombom e mais três pessoas foram alvos de mandados de prisão nesta terça-feira em uma operação deflagrada pela Polícia Federal e MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo).

Com exceção de Rogério, apontado como segurança do cantor Gusttavo Lima, os outros policiais estão presos. Além deles também foram alvos de mandados de prisão o advogado Ahmed Hassan Saleh, o Mudi, e os empresários Robinson Granger de Moura, o Molly e Ademir Pereira de Andrade, todos denunciados por Gritzbach por suposto envolvimento com o PCC (Primeiro Comando da Capital).

A operação apreendeu R$ 621 mil, 942 dólares, 1.570 euros além de joias e armas. Entre os armamentos, estavam dois fuzis e uma pistola.

A operação, denominada Tacitus, termo em latim que significa silencioso ou não dito, tem o objetivo de desarticular organização criminosa voltada à lavagem de dinheiro e crimes contra a administração pública (corrupção passiva e ativa).

Ao menos 130 policiais federais, com apoio de homens da Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo, foram às ruas na capital, em Bragança Paulista e em Igaratá, no interior, e em Ubatuba, no litoral norte.

Os alvos da força-tarefa de agentes federais e promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) foram denunciados pelo empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, delator também do PCC (Primeiro Comando da Capital), por envolvimento em corrupção.

Gritzbach foi assassinato a tiros de fuzis por dois homens em 8 de novembro deste ano no aeroporto internacional de Guarulhos, oito dias após ter denunciado os policiais à Corregedoria da Polícia Civil. Dois acusados de envolvimento na morte dele estão presos.

Ele declarou que o delegado Baena e o investigador Eduardo, quando atuavam no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), exigiram dele R$ 40 milhões para tirar seu nome de um inquérito ao qual era investigado por envolvimento em um duplo assassinato.

O empresário foi acusado de ser o mandante das mortes de Anselmo Bechelli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, narcotraficante até então influente no PCC, e do comparsa Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, 33, motorista dele, executados a tiros em 27 de dezembro de 2021, no Tatuapé, zona leste.

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Em delação, Gritzbach afirmou que policiais civis corruptos teriam exigido R$ 40 milhões para que o inquérito contra ele fosse encerrado.

Nomes foram delatados por Gritzbach

Baena e Monteiro, este último parente da corregedora da Polícia Civil, Rosemeire Monteiro de Francisco Ibañez, eram responsáveis pelo inquérito que apurava as mortes dos dois integrantes do PCC.

Segundo o delator, Baena e Monteiro chegaram a receber R$ 1 milhão e o dinheiro teria sido entregue por César Trujillo, dono de uma loja de carros no Jardim Anália Franco, zona leste. O empresário afirmou que os dois policiais foram pessoalmente ao restaurante Sonora receber o dinheiro.

O empresário revelou na corregedoria que após as mortes de Cara Preta e Sem Sangue, ele foi sequestrado por integrantes do "tribunal do crime" do PCC e levado para um cativeiro, no Tatuapé onde estavam um agenciador de jogadores de futebol, um amigo de infância de Cara preta e outros seis integrantes do PCC.

O sequestro - continuou Vinícius - também foi investigado pelo DHPP, mas o caso acabou arquivado porque o agenciador dos jogadores e um outro membro do PCC, Rafael Maeda Pires, o Japa, encontrado morto no Tatuapé em maio do ano passado, teriam pago R$ 10 milhões a Baena e Monteiro para não serem presos.

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No depoimento, o empresário contou que os policiais ficaram com R$ 5 milhões cada. Ele disse que foi informado da corrupção pelos policiais civis Valdenir Paulo de Almeida, 57, o Xixo, e Valdir Pinheiro, 55, o Bolsonaro.

Ambos foram presos pela Polícia Federal em setembro deste ano, acusados de receber R$ 800 mil de João Carlos Camisa Nova Júnior, 39, o Dom Corleone, um dos maiores exportadores de cocaína à Europa, para interromper uma investigação sobre tráfico internacional de drogas.

Relógios roubados

No dia em que foi preso pelos policiais do DHPP - acrescentou o depoente - Gritzbach teve uma valise com 15 relógios de luxo levados pelo delegado Baena e investigador Monteiro. Ele foi conduzido para o 8º DP (Belém), na zona leste.

De acordo com Gritzbach, na delegacia Baena e Monteiro tinham prometido entregar os relógios quando ele fosse solto. Porém, devolveram apenas oito e ficaram os outros sete, avaliados, somados, em R$ 714 mil. Ele detalhou as marcas, modelos e números de séries dos artigos.

Posteriormente, declarou Gritzbach, o investigador Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho, foi visto por ele em redes sociais usando os relógios Rolex Yacht Master, de Ouro, de R$ 200 mil, o mais caro dos sete não devolvidos, além do Rolex GMT Pepsi e dois Hublot King Power.

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Segundo promotores do Gaeco, a Justiça decretou a prisão temporária dos investigados e cumpriu mandados de buscas e apreensões em endereços relacionados a eles, além de outras medidas cautelares, como o bloqueio de contas e o sequestro de bens. Os envolvidos teriam movimentado R$ 100 milhões desde 2018.

O que diz a defesa do delegado Baena

Os advogados Daniel Bialski e Bruno Borragine, que defendem Fábio Baena Martin e Eduardo Lopes Monteiro chamaram as prisões de "arbitrariedade flagrante". Em nota, os advogados esclarecem que "ambos compareceram espontaneamente para serem ouvidos e jamais causaram qualquer embaraço às repetidas investigações. Ademais, a defesa denuncia o gravíssimo fato que não se deu o Direito e oportunidade ao delegado Baena contatar seus advogados avisando de sua prisão e do cumprimento do mandado de busca, o que somente reforça a ilegalidade denunciada".

A nota da defesa diz ainda que os advogados estão "tomando todas as medidas para fazer cessar, imediatamente, a coação espúria constatada".

A reportagem não conseguiu contato com os advogados dos demais acusados, mas o espaço continua aberto para manifestação dos defensores de todos eles. O texto será atualizado caso haja um posicionamento.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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