Josmar Jozino

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Reportagem

Morte de mulher sequestrada por não beijar chefe do PCC em SP ficou impune

O MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) promoveu no mês passado o arquivamento do inquérito que apurava o desaparecimento de Karina Martins Bezerra, 26. Ela foi sequestrada pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) porque recusou beijar um chefe da facção.

A jovem sumiu em 25 de agosto de 2022 e foi condenada à morte pelo "tribunal do crime" do PCC. O Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), não conseguiu, em dois anos e sete meses de apurações, chegar aos autores do crime nem encontrar o corpo da vítima.

As investigações do Deic, tido como um dos departamentos mais importantes da Polícia Civil de São Paulo, não avançaram nem identificaram um traficante do PCC conhecido como Xenon, acusado de sequestrar e ordenar a morte de Karina porque ela não quis beijá-lo em uma balada.

O MP-SP pediu o arquivamento do inquérito no dia 18 de fevereiro deste ano por entender que "restou prejudicada a propositura da ação penal, diante da falta de materialidade do tipo penal e dos indícios frágeis e insuficientes para a persecução criminal". A Justiça ainda não julgou o pedido.

O misterioso Xenon seria um traficante de drogas e chefe do PCC na região do Itaim Paulista, zona leste de São Paulo. A Polícia Civil não tem dúvidas de que ele comandou o sequestro de Karina porque ela se recusou em beijá-lo na noite de 14 de agosto de 2022 na Adega MD.

Karina foi à cervejaria dirigindo um Chevrolet Onix. Ela estava com duas amigas. Após recusar o beijo, ela foi sequestrada por Xenon e levada para um cativeiro no Itaim Paulista. A vítima teve o carro e o telefone celular roubados.

No cativeiro, Karina foi ameaçada de morte. Ela ficou amordaçada e teve os braços e pernas amarrados por integrantes do "tribunal do crime" do PCC. Graças à denúncia anônima, policiais militares prenderam seis pessoas envolvidas no sequestro. A reportagem teve acesso a um vídeo, mostrando a ação dos PMs.

Mas Xenon, o pivô do arrebatamento, não foi localizado nem identificado. Karina foi libertada pelos PMs e conduzida ao 50º DP (Itaim Paulista). Os seis presos foram indiciados e acabaram condenados a três anos pelo crime de cárcere privado.

Sequestrada pela segunda vez

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A jovem ficou apenas 11 dias na casa dos pais, no Itaim Paulista. Ela foi sequestrada pela segunda vez em menos de duas semanas e levada para outro cativeiro, na Favela de Paraisópolis, onde teria sido submetido a novo julgamento pelo "tribunal do crime".

Agentes do Deic chegaram a prender, na Vila Curuçá, zona leste, Brendon Macedo Soares, 27. Em depoimento, ele contou que era disciplina (chefe) do PCC no bairro onde Karina foi sequestrada e admitiu ter participado do segundo "tribunal do crime" ao qual a jovem foi submetida.

Brendon afirmou que Karina estava escondida em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, onde foi localizada e quis contar a própria versão sobre o primeiro julgamento. Segundo Brendon, ela voltou ao Itaim Paulista, acabou sequestrada de novo e levada para a Favela de Paraisópolis, na zona sul.

No depoimento, Brendon acrescentou que além de "disciplina", era auditor de drogas do PCC na "quebrada" do Itaim Paulista e, por esses motivos, foi chamado para ir até Paraisópolis, para participar do "tribunal do crime" da facção.

Ele contou ainda que "lá chegando encontrou três integrantes do PCC no barraco. Revelou também que por regra da facção não podiam ficar no imóvel mais de três "irmãos" (batizados na organização). Disse que cumprimentou todos e saiu.

Porém, ressaltou que viu Karina sentada em uma cadeira e que com certeza ela não foi maltratada nem torturada. Brendon declarou que depois disso entrou no veículo que havia emprestado de sua cunhada e que escoltou o Chevrolet Onix de Karina, dirigido por outro homem, até o Rodoanel.

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No depoimento, Brendon não revelou onde o carro d a vítima foi deixado nem mencionou o nome do motorista que dirigiu o veículo. Ele também afirmou desconhecer o paradeiro do corpo dela. Para a Polícia Civil, a jovem foi mesmo assassinada pelo "tribunal do crime" do PCC.

Além de Brendon, outros três integrantes do PCC suspeitos de participação no assassinato de Karina também foram investigados e ouvidos em inquérito. Marco Antônio Ferreira Koti, Weverton da Silva Mogeika e Jonathan Freitas Tavares negaram envolvimento no crime.

Reportagem

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