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Kennedy Alencar

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Pode dar certo tentativa de Bolsonaro e Guedes de culpar covid por fracasso

Jair Bolsonaro faz declaração ao ministro Paulo Guedes - Reprodução/Facebook
Jair Bolsonaro faz declaração ao ministro Paulo Guedes Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

02/03/2021 14h05Atualizada em 02/03/2021 15h18

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A estratégia do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, é óbvia. Culpar a pandemia pelo fracasso do governo, justificando o despreparo de ambos para comandar o país. O pior é que tem chance de dar certo.

Se o Brasil tivesse um governo bom, o estrago da pandemia seria suficiente para enfraquecer as chances de reeleição do presidente em 2022. Como temos o pior governo da história, o dano da pandemia agrava a tragédia brasileira, mas sai barato para Bolsonaro. Ajuda o presidente a oferecer um pretexto para seguir com o projeto de destruição que vem implementando.

Se não houvesse coronavírus, o atual governo poderia ser cobrado pelo seu fracasso de forma mais clara. A fatura do desastre seria mais evidente. Bolsonaro e Guedes, cada um despreparado à sua maneira, como diria um escritor russo, não teriam como sair pela tangente, o caminho trilhado pelos covardes e fracos.

Mas tem uma pandemia no meio do caminho.

Bolsonaro tem dito, basicamente, o seguinte: ele estaria fazendo tudo certo, mas governadores, prefeitos, jornalistas, cientistas e o resto do mundo perseguiriam o objetivo de atrapalhar a sua vida e, por consequência, do país. E ainda apareceu o coronavírus.

É mentira.

Guedes, que saiu com essa da Venezuela agora, é um poço de ineficiência, arrogância, equívocos e submissão. As respostas minimamente decentes à pandemia não vieram dele, mas do Congresso, dos governadores e da sociedade civil.

É um desastre.

Bolsonaro e Guedes são os principais responsáveis pela situação desesperadora do país. O primeiro sabotou todas as medidas possíveis para mitigar os efeitos da pandemia e se dedica a destruir todos os avanços conquistados desde a redemocratização. O segundo se revelou um incompetente que não sabe o que fazer com o poder que tem. E, se soubesse, aprovaria medidas para piorar ainda mais o futuro do país.

No mercado de "rebranding" dos democratas de pandemia, vemos uma outra palavra de contrição e de condenação ao genocida. Bateu certa culpa na consciência. Mas essas pessoas se mostram incapazes de olhar de verdade para o que aconteceu no país.

Bolsonaro tem vários pais e mães. Esses democratas de pandemia ajudaram a demonizar da política, responsável pelo antipetismo que busca criar uma falsa equivalência entre pessoas e projetos políticos incomparáveis.

Diante de mais revelações da "Operação Spoofing", ainda protegem a Lava Jato. Ora, deveriam pedir a exoneração de Deltan Dallagnol do Ministério Público a bem do serviço público. Deveriam demandar que Sergio Moro e Dallagnol fossem investigados e julgados pela corrupção do processo judicial. Eles corromperam o processo judicial, entenderam? Se há pessoas que jogaram fora uma oportunidade de ouro de combater a corrupção, elas são Moro, Dallagnol e a turma da força-tarefa de Curitiba.

No entanto, são raras as palavras nas colunas sobre o papel de um certo jornalismo dito profissional que fez hagiografias e assessoria de imprensa para figuras da estatura moral do tamanho de suas mensagens torpes, preconceituosas e pequenas.

Tocar nesse assunto seria mexer num vespeiro. Afinal, seria hora de união de todos contra Bolsonaro. Vamos passar um pano. Ora, não quando são cevadas com apoio da imprensa alternativas que representam um bolsonarismo de sapatênis.

É bom que se cobre Lula, Ciro, Haddad, Flávio Dino, Rodrigo Maia e setores do PMDB a não adotar estratégia que facilite os planos de Bolsonaro em 2022.

No entanto, antes disso, é importante demonstrar em relação a Bolsonaro um décimo, vá lá, do ímpeto de desconstrução, para usar um termo educado, adotado em relação à então presidente Dilma Rousseff.

Como canta o U2, "Ficou mais fácil para você agora? Você tem alguém [o antipetismo] para culpar". Não cola mais tentar emplacar falsas equivalências entre o bolsonarismo e o petismo, por exemplo. Ficou velho e falso.

Ninguém precisa atear fogo nas vestes, mas um pouquinho de honestidade sobre o que todos fizeram no verão passado poderia ajudar a encontrar respostas para as questões existencialistas que andam aparecendo na praça. Bom não demorar. A conta chega um dia. Bolsonaro está no jogo.

Do seu ponto de vista, o genocida está agindo certo. Culpar o coronavírus não é uma narrativa reeleitoral a ser desprezada. Famílias e vidas estão sendo destruídas porque o país não formulou uma resposta minimamente eficiente contra a pandemia. Se o presidente e o ministro da Economia conseguirem persuadir as pessoas de que não tinham mais o que fazer, talvez recebam uma segunda chance no ano que vem. Repetindo, Bolsonaro e Guedes podem encontrar uma resposta convincente perante os olhos de boa parte dos eleitores.