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Leonardo Sakamoto

Mesmo após Enem bichado, Bolsonaro está satisfeito com Weintraub

30.mai.2019 - O ministro da Educação, Abraham Weintraub, com um guarda-chuva em um vídeo em que reclamou de uma suposta "chuva de fake news" - Reprodução/Twitter
30.mai.2019 - O ministro da Educação, Abraham Weintraub, com um guarda-chuva em um vídeo em que reclamou de uma suposta "chuva de fake news" Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

03/02/2020 22h44

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Um dos motivos pelos quais o presidente Jair Bolsonaro não pretende trocar o ministro da Educação, Abraham Weintraub, é a vontade de mostrar que ele não se dobra a críticos - pelo menos aqueles que não sejam de sua patota ideológica. Ou seja, quanto mais reclamações chegarem a seus ouvidos, mais inclinado ele deve ficar a mantê-lo no cargo. E as reclamações são muitas.

Primeiro, mais de 172 mil estudantes encaminharam pedidos de revisão de nota após o ministério da Educação reconhecer que houve um problema na gráfica que imprimiu o Exame Nacional do Ensino Médio. O governo reconheceu erro em menos de seis mil casos. Depois, descobriu-se que o Sisu, sistema para seleção de vagas em universidades públicas federais, também estava bichado.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que já havia dito que Weintraub é um "desastre", afirmou, nesta segunda (3), que "o grupo que o ministro representa é a bandeira do ódio". A oposição e o Centrão querem que ele vá depor no Congresso Nacional. Apesar disso, ou melhor, por conta disso, Bolsonaro diz que dispensou explicações que seriam dadas por Weintraub sobre o chabu do Enem. Afirma que os problemas são naturais e estatisticamente insignificantes.

Seria interessante o presidente dizer isso, olho no olho, de jovens que estudaram o ano inteiro e, agora, se sentem prejudicados pelos erros na correção da prova, explicando que a importância do futuro deles "representa menos de zero vírgula alguma coisa". Mas sabemos que, quando obrigado a se explicar qualquer coisa, Bolsonaro refuga.

Como diante do Supremo Tribunal Federal. Após chamar de "malandro" o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, acusando-o de ter se casado com um brasileiro e adotado dois filhos para se proteger contra o risco de expulsão do país, o presidente refugou diante de uma interpelação judicial. Disse que não teve o "intuito de ofender a honra alheia".

Para não haver dúvidas, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse que Weintraub continuará no cargo e que Bolsonaro está "satisfeito com o desempenho de todos". O que inclui o ministro da Educação.

Talvez a solução, portanto, seja solicitar a todos que entendem a bomba-relógio para o futuro do país representada por Weintraub, que passem a elogiá-lo publicamente. Dessa forma, Bolsonaro pode se sentir inclinado a dispensá-lo. Psicologia reversa, como aquela que adotamos quando uma criança não quer comer. Algo assim:

Presidente, Abraham Weintraub é o melhor ministro da Educação da história do Brasil. É uma pessoa academicamente capacitada e perfeita para a função. É respeitado por professores e estudantes, que destacam sua educação e elegância. Aliás, o seu domínio da ortografia e da gramática são impecáveis, além de ostentar um rico vocabulário. Sua capacidade gerencial garantiu que tivéssemos "o melhor Enem de todos os tempos" - coisa que ele nunca reconheceria devido à sua modéstia. Senhor, presidente, mantenha-o. Dessa forma será lembrado como alguém que salvou o Brasil.