PIX vai convencer família Bolsonaro a não usar tanto dinheiro vivo?
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Há quem não confie no sistema bancário e opte por guardar seu dinheiro em colchões e potes de arroz.
Outros contam com tantas dívidas que abandonam suas contas correntes - que se tornam buracos negros, engolindo qualquer depósito instantaneamente.
Sem contar o naco dos trabalhadores informais que dá às costas à tributação por sentirem que não devem nada ao país lhe deu às costas primeiro.
E há a família Bolsonaro.
Reportagem de Italo Nogueira e Ana Luiza Albuquerque, da Folha de S.Paulo, nesta quarta (7), revelou que o presidente da República doou R$ 10 mil em dinheiro vivo para a campanha de seu filho Carlos, candidato à reeleição ao cargo de vereador no Rio de Janeiro.
Doações em espécie acima de R$ 1064,10 devem ser, por regra, feitas por transferência ou cheque cruzado e nominal para evitar lavagem de dinheiro. Jair fez algo irregular, portanto.
Mas chama a atenção à preferência, novamente, dada ao dinheiro vivo, ainda mais que o presidente não se enquadra nas três situações descritas aqui.
Não é ilegal usar papel moeda em grandes quantias. Mas é pouco usual, por ser uma maneira de encobrir rastros de transações ilegais.
Em um momento em que o Ministério Público do Rio estuda uma denúncia contra o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) por conta de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro, seria mais elegante se Jair tivesse optado por fazer a doação à campanha do filho via transferência, DOC e TED. Ou esperasse alguns dias e mandasse um PIX. Por mais que ele desconheça a nova transação instantânea autorizada pelo Banco Central.
Preferiu disparar o equivalente a 50 lobos-guarás. Quem tem tanto bicho em casa?
Abundam evidências que o então deputado estadual Flávio recebia, por intermédio de seu ex-faz-tudo Fabrício Queiroz, parte dos salários devolvidos dos servidores de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio. O nome fantasia é "rachadinha", mas, é desvio de recursos públicos mesmo.
Segundo as investigações, o dinheiro era lavado através da loja de chocolates de Flávio e terminava na forma de imóveis e mensalidades de escola e de plano de saúde. Ou algo mais.
Pois o presidente segue devendo uma explicação sobre os R$ 89 mil em depósitos que Queiroz e sua esposa, Márcia de Aguiar fizeram na conta da primeira-dama, Michele Bolsonaro. Questionado sobre a razão dessas transações, ele ameaçou dar uma porrada na boca do repórter de O Globo. Neste caso, pelo menos, os R$ 89 mil vieram na forma de 27 cheques e puderam ser identificados.
Outra apuração da Folha já havia mostrado que tanto Jair quanto seus filhos fizeram doações em dinheiro vivo para suas próprias campanhas eleitorais entre 2008 e 2014. Era comum um membro da família doar a outro.
Claro que essa discussão é distante para dezenas de milhões de brasileiros que abriram uma conta bancária pela primeira vez neste ano, para poder receber o auxílio emergencial na pandemia de coronavírus. Pelo contrário, para muitos, o fato de o presidente usar dinheiro vivo seria um exemplo de que Bolsonaro é "gente como a gente".
Mas não é. "Gente como a gente" não foi eleito com o apoio do mercado financeiro, não conta com patrimônio milionário e nem ocupa, há décadas, cargos públicos, não sabendo o que é trabalhar na informalidade (bem, não oficialmente, pelo menos). "Gente como a gente" não enriquece em cargo público, muito menos consegue dar tapinha nas costas do juiz que vai analisar o caso do seu filho.