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Leonardo Sakamoto

REPORTAGEM

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Para 6 em 10 bolsonaristas, o principal inimigo é o STF, e não a esquerda

Ministro Alexandre de Moraes foi alvo de manifestações bolsonaristas, como esta em Porto Alegre - REUTERS
Ministro Alexandre de Moraes foi alvo de manifestações bolsonaristas, como esta em Porto Alegre Imagem: REUTERS

Colunista do UOL

08/09/2021 09h48

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Dos manifestantes que participaram do ato golpista de apoio a Jair Bolsonaro, na avenida Paulista, nesta terça (7), 59% consideram que o Supremo Tribunal Federal é o principal inimigo do presidente, seguido pela esquerda (17%), a imprensa (15%), o Congresso Nacional (3%), os governadores (1%) e a CPI da Covid, com menos de 1%.

Os dados são de levantamento realizado durante a manifestação por pesquisadores do Monitor do Debate Político no Meio de Digital, da Universidade de São Paulo, coordenado pelos professores Márcio Moretto e Pablo Ortellado.

O principal motivo para participarem do ato, que contou com um discurso de Bolsonaro prometendo não mais seguir decisões judiciais do ministro Alexandre de Moraes, foi pedir o impeachment de membros do STF (29%), defender a liberdade de expressão (28%), autorizar o presidente a agir (24%), implementar o voto impresso (12%) e pedir intervenção militar para moderar conflitos entre os poderes (5%).

"O antagonismo com o STF é o que está movendo a base bolsonarista hoje", afirmou Ortellado à coluna. Para ele, chama a atenção que o artigo 142 da Constituição, cuja interpretação distorcida é utilizada por apoiadores do presidente para justificar um golpe militar, é o motivo que tem menos apelo na base entre os listados.

Outro ponto destacado pelo pesquisador é que o discurso golpista embalado na justificativa da defesa da liberdade de expressão mostrou engajamento.

O presidente vem usando repetidamente a justificativa de que o STF está censurando a população após ele e seus aliados passarem a ser investigados pela corte por propagarem mentiras sobre fraudes no sistema eleitoral e atacarem instituições democráticas.

Ortellado aponta que edição da Medida Provisória 1068, nesta segunda (6), impedindo a remoção de conteúdos falsos pelas plataformas de redes sociais, como Facebook, Twitter e Google, pode ter ajudado a bombar o tema entre os manifestantes. A tendência é que o Senado Federal devolva a matéria sem análise devido aos vícios de inconstitucionalidade.

A pesquisa realizou 642 entrevistas entre às 13h e às 16h30 em toda a extensão da avenida Paulista ocupada pelos manifestantes. O nível de confiança é de 95% e a margem de erro de quatro pontos percentuais para mais ou para menos.

Mais da metade é contrária ao uso de máscaras contra covid-19

Os manifestantes bolsonaristas também se mostraram contrários às políticas adotadas por governadores e prefeitos para combater a covid-19. Quase metade (49%) não usava máscaras na manifestação.

Do total, 53% são contrários ao uso de máscaras no dia a dia, 87% consideraram inadequado o fechamento do comércio e 84% discordam da imposição de restrições a quem não tomou vacina, como a proposta de um passaporte sanitário para poder entrar em eventos e restaurantes.

Mesmo minoritário, chama a atenção que 41% do total seja a favor do uso de máscaras para evitar a contaminação pela doença. Jair Bolsonaro tem atacado o uso do equipamento e costuma usar apenas quando sai do Brasil.

Perfil conservador: homens, brancos, mais velhos

Enquanto pessoas com 45 anos ou mais representaram 53% dos presentes, apenas 5% tinham entre 19 e 24 anos e 2% entre 13 e 18 anos, mostrando que os participantes têm perfil semelhante a de outras manifestações conservadoras e diferente dos atos na avenida Paulista contra Bolsonaro, mas também das jornadas de junho de 2013.

Apesar de 56% da população brasileira ser negra (pretos e pardos), de acordo com o IBGE, eles representavam 33% dos presentes, de acordo com a cor de pele autodeclarada. Os brancos eram 60% dos manifestantes na avenida Paulista, amarelos, 2%, e indígenas, 1%. E 3% não responderam.

Homens representaram 61% dos presentes e mulheres, 39%. Católicos eram 37%, evangélicos, 36%, espíritas e kardecistas, 9%, e adeptos de religiões de matriz africana, 1%, judeus, 1%. Outras, 5%. Nenhuma religião, 12%.

Quanto à renda, 42% afirmaram ter renda familiar de mais de cinco salários mínimos por mês, 38% entre dois e cinco e 14% com menos de dois. Dos entrevistados, 48% tinham curso superior completo e 12%, incompleto.

Questionados sobre o posicionamento político, 77% afirmaram ser de direita, 5% de centro e menos de 1% de esquerda. Ao todo, 16% disseram que não são "nada disso". Votaram em Bolsonaro nas eleições de 2018 88% dos presentes, enquanto 3% afirmaram ter depositado o voto em João Amoêdo (Novo) e 2% em outros candidatos.