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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro quebra bullying praticado por filhos ao confessar chorar no banho

22.jul.2018 - Jair Bolsonaro chora em convenção do PSL que oficializou sua candidatura à Presidência - Ricardo Moraes/Reuters
22.jul.2018 - Jair Bolsonaro chora em convenção do PSL que oficializou sua candidatura à Presidência Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

Colunista do UOL

15/10/2021 15h40

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Jair Bolsonaro confessou que chora no banho. É ótimo que ele, tendo construído sua imagem em torno da ilusão de que homem não se abala, reconheça suas mentiras. Contudo, a declaração jogou água no chope de bolsonaristas que afirmam que os pais de seus adversários choram no banho.

A expressão carrega um histórico homofóbico e misógino por ser usada contra a população LGBTQIA+ por grupos de jovens ultraconservadores e incels (celibatários involuntários) nas redes sociais. O objetivo é humilhar, afirmando que os pais choram de vergonha da natureza de seus filhos e filhas. Ou mandando as próprias vítimas "chorarem no banho", um lugar quentinho e isolado, diante de reclamações por ataques.

Ao menos dois dos filhos do presidente já usaram a expressão.

"Será que o pai destas pessoas não chora no banho? Certamente não têm orgulho de tais atitudes! O resultado é o oposto do esperado pois a maioria da população é decente e respeitadora das leis!", postou o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), em outubro de 2018, ao falar de supostos manifestantes contra seu pai que urinaram na rua.

"Nem liga, pai dessa galera toda aí chora no banho. Sempre vão te provocar para você cair na armadilha e dizer que não é isso ou aquilo que eles te chamam. Aí quando você fizer isso eles dirão que você está mentido ou que é controversa", postou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), em fevereiro de 2020, em crítica a adversários.

Outros bolsonaristas usam a expressão para passar a ideia de que seus adversários são fracos e débeis. O deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ) a adotou nesse sentido, por exemplo, em uma postagem de novembro de 2017, ao convocar para um evento.

"Amanhã temos nossa edição especial de 1 ano de Politicamente Incorreto, c/ as participações especiais do deputado estadual - RJ Flávio Bolsonaro e do deputado federal - PR Paulo Martins. A esquerda chora no banho c/ um evento desses!", postou.

O que fazer agora que Jair assumiu que também derrama lágrimas sob o chuveiro?

"Quantas vezes eu choro no banheiro em casa? Minha esposa [Michele Bolsonaro] nunca viu. Ela acha que eu sou o machão dos machões", afirmou em um encontro organizado por uma igreja evangélica em Brasília.

Ao homem não é dado o direito, desde pequeno, de demonstrar afeto, sentir emoções, a ficar doente, expor fraquezas. É criado não para ser humano, mas um monstrinho - e Bolsonaro tem um importante papel negativo nesse processo, pois é referência para muitos rapazes.

Ou nós, homens, nos libertamos desse papel idiota que construímos para nós mesmos e nossos filhos ou vamos continuar sendo, consciente ou inconscientemente, vetores do sofrimento alheio simplesmente porque a estrutura machista da sociedade espera algo de nós.

E, claro, continuar passando vergonha alheia ao descobrirmos que os nossos pais também choram no banho.

Defendo, intransigentemente, o direito de Jair chorar no banho ou em qualquer lugar. Homem chora sim. E, dessa forma, ele pode fazer companhia para os parentes e amigos dos mais de 600 mil brasileiros que morreram por covid-19 devido às suas ações e inações como presidente.