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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Impotente, Guedes pede que lojas congelem preços para reeleger Bolsonaro

Edu Andrade/Divulgação
Imagem: Edu Andrade/Divulgação

Colunista do UOL

10/06/2022 16h26

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Com 106 milhões de brasileiros sobrevivendo com apenas R$ 13,83 por dia e 33 milhões de pessoas passando fome, não é necessário convencer o eleitorado pobre que o governo Jair Bolsonaro fracassou. Até porque não se enche barriga e despensa com motociatas, passeios de jet ski, ameaças de golpe, citações bíblicas e fantasmas de comunismo. Ou seja, se não tirar o Brasil do atoleiro, Jair vai pro golpe porque perderá no voto.

Em uma demonstração de impotência para mudar essa realidade, o ministro da Economia Paulo Guedes resolveu pedir arrego em público. Para quem assumiu cheio de gás, ver um Posto Ipiranga assim, sem combustível, é o retrato da derrota. Dirigindo-se a supermercados e indústrias, Guedes solicitou às empresas uma mãozinha na reeleição de seu chefe, condição para que ele mesmo não se junte aos 11,3 milhões de desempregados.

"Trava os preços. Vamos parar de aumentar os preços aí, dois, três meses. Nós estamos em uma hora decisiva para o Brasil", afirmou.

E o que acontece em três meses? O encontro dos brasileiros com as urnas eletrônicas. Mais descarado que isso só pedisse que as empresas tentassem convencer os empregados a votarem em Bolsonaro. Já que funcionou com empresários como Luciano Hang, da Havan, em 2018, segundo o Ministério Público do Trabalho, por que não?

Se os empresários forem atender ao chamado do ministro precisam se lembrar que, ao contrário dos "fiscais do Sarney", um bom naco dos bolsonaristas anda armado.

Quando o governo Jair Bolsonaro celebrou o crescimento da economia em 1% no primeiro trimestre, avisamos que não importa o tamanho do PIB, mas o prazer que ele, de fato, proporciona. E para quem.

Infelizmente, o orgasmo com o PIB é bem limitado a um punhado de gente. Porque o número de pessoas e famílias que detêm mais de um bilhão de dólares subiu de 42 para 62 no Brasil durante a pandemia, período em que os miseráveis famélicos cresceram 73%.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) Contínua, divulgada nesta sexta (10), a queda no rendimento dos lares mais pobres foi mais intensa do que nos mais ricos - reforçando o caráter de Robin Hood às avessas da atual gestão.

Os rendimentos mensais dos 5% com menor renda (que ganham R$ 39 per capita) despencaram 33,9% de 2020 para 2021 e entre os que recebem de 5% a 10% (R$ 148), desabaram 31,8%. Já entre o 1% com maior renda (média de R$ 15.940 por cabeça), eles caíram 6,4%.

Com isso, o 1% da população brasileira com renda mais alta teve rendimento 38,4 vezes maior que a média dos 50% com as menores remunerações.

A desigualdade dificulta que as pessoas vejam a si mesmas e às outras pessoas como iguais e merecedoras da mesma consideração. Leva à percepção de que o poder público existe para servir aos mais abonados e controlar os mais pobres. Ou seja, para usar a polícia e a política a fim de proteger os privilégios do primeiro grupo, sendo injusto e violento contra o segundo, se necessário for. Com o tempo, a desigualdade leva à descrença nas instituições. O que ajuda a explicar, em parte, o momento em que vivemos hoje e nosso presidente.

Os números do IBGE mostram não apenas um governo que não deu certo, mas algo pior: um país que, se continuar nessa estrada, também vai se perder.