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Bolsonaro ganha voto com PEC do Desespero, e perde com corrupção e assédio
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A nova pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta (6), mostra que Bolsonaro pode estar conseguindo terceirizar sua responsabilidade pela inflação, ao menos para uma parcela dos eleitores. Mas que o impacto disso teria sido limitado pelos escândalos de corrupção e assédio sexual de seu governo. No final das contas, o resultado foi praticamente de estabilidade entre ele e Lula.
O petista tem 45%, enquanto o atual presidente conta com 31%. Uma diferença de 14 pontos, que era de 17, em maio, e 15, em abril. A margem de erro é de dois pontos.
A vantagem de Lula caiu, no último mês, de 53 para 37 pontos no Nordeste, de 28 para 19 pontos entre mulheres e de 36 para 33 entre quem ganha até dois salários mínimos, segundo a Quaest.
Ao mesmo tempo, foi de 28% para 25% os que acreditam que Bolsonaro é o responsável pelo aumento nos combustíveis. E subiu de 16% para 20% os que dizem que a culpa por isso é da Petrobras - discurso que vem sendo martelado pelo presidente da República, apesar de o governo que ele chefia ter o controle da empresa e de suas políticas de preço de combustível.
Ao todo, 42% dos eleitores dizem que o presidente está fazendo o que pode para resolver o problema, frente a 52% que afirmam que ele não está fazendo o possível.
Na avaliação de Felipe Nunes, diretor da Quaest, isso pode significar que Jair está conseguindo passar a impressão de que está lutando para resolver os problemas da população e que ele não seria responsável por eles. Mas que esse potencial de crescimento foi limitado pelos últimos escândalos do seu governo. Ou seja, uma dança entre razões econômicas e morais.
Isso gera dois movimentos. Do total de eleitores, 61% sabem da proposta de aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e 46% souberam do voucher de R$ 1000 para caminhoneiros. Os itens estão na PEC do Desespero, também chamada de PEC da Compra de Votos ou PEC Kamikaze, que libera dezenas de bilhões de reais para medidas de benefícios sociais - que, por conta do timing, vem sendo chamada de eleitoreira pela oposição.
Já 54% também tiveram conhecimento da prisão de Milton Ribeiro - mesmo percentual que ficou sabendo do assédio sexual sobre funcionárias do qual Pedro Guimarães é acusado.
A pesquisa Quaest mostra que 27% dos eleitores que não querem nem Lula, nem Bolsonaro afirmam que a redução do ICMS sobre os combustíveis aumenta as chances de votar em Bolsonaro e 26% dizem o mesmo sobre o subsídio para os caminhoneiros.
Mas 43% desse grupo apontam que a prisão de Milton Ribeiro reduz as chances de votar no presidente e 39% afirmam que o assédio sexual do, hoje, ex-presidente da Caixa, causa o mesmo efeito.
O ex-ministro da Educação foi preso em meio a uma investigação da Polícia Federal de que haveria um gabinete paralelo no MEC, no qual pastores amigos de Bolsonaro e indicados por ele a Ribeiro, cobravam propina em dinheiro, ouro e bíblias para garantir acesso de prefeitos a fundos bilionários da educação.
Já o ex-presidente da Caixa foi acusado de usar a sua posição de comando no banco para pressionar funcionárias por sexo, apalpar nádegas e seios e propor sexo coletivo. As denúncias se tornaram investigação no Ministério Público Federal e a revelação dos relatos levou a um pedido de demissão de Guimarães. Bolsonaro, próximo a ele, tem feito silêncio sobre o caso em solidariedade ao ex-assessor.
No final das contas, a decisão do voto deve seguir a percepção de melhora ou não da situação econômica do país e dos eleitores. Por enquanto, 44% apontam a economia e 17%, as questões sociais, como os principais problemas do país. Outros 12% dizem que é a saúde e a pandemia e só 9% dizem que é a corrupção. Por isso, o presidente se preocupa tanto em distribuir dinheiro ao eleitorado.