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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Na mira da PF, Bolsonaro mentiu sobre vacina e Aids para disfarçar inflação

Live de Bolsonaro é banida pelo Facebook por inventar relação entre Aids e vacina da Covid - Reprodução
Live de Bolsonaro é banida pelo Facebook por inventar relação entre Aids e vacina da Covid Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

19/08/2022 18h31

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O ministro Alexandre de Moraes, do STF, mandou para o procurador-geral da República um pedido da Polícia Federal para indiciamento do presidente da República por incitação ao crime. Jair Bolsonaro mentiu ao afirmar que a vacina contra a covid-19 poderia levar à Aids, em uma live, em 21 de outubro de 2021.

Neste momento, em que o pedido caminha para ser arquivado por Augusto Aras, fiel escudeiro de Jair, é bom lembrar a "razão" de chefe do Poder Executivo ter contado uma das mentiras mais mortais de seu governo: criar mais uma cortina de fumaça para distrair a atenção da sociedade da inflação, da fome e do caos na área econômica.

Já sobrecarregados com a pandemia, infectologistas foram obrigados a pararem o que estavam fazendo para virem a público e alertar que imunizantes não transmitem HIV, nem causam o desenvolvimento da doença.

Essa negativa seria desnecessária se a totalidade da sociedade entendesse que convive com um presidente que utiliza a mentira como instrumento de governo e que esse tipo de declaração estúpida amplia o preconceito contra a população que convive com o HIV e pode afastá-la da necessária vacinação.

Para proferir tal aberração, Bolsonaro se baseou em sites que publicaram informações falsas e manipuladas, que, por sua vez, citaram fontes no Reino Unido que nunca trouxeram tal informação. O presidente afirmou que relatórios "sugerem que os totalmente vacinados estão desenvolvendo a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (Aids) muito mais rápido que o previsto".

O absurdo entrou para a coleção de Jair, que já havia dito que vacinas transformavam pessoas em jacarés, faziam nascer barba em mulheres e matavam adolescentes.

Já não bastasse o botijão de gás que escalava a R$ 130 e a gasolina a R$ 7,50, famintos revirando caminhões de lixo e a conta de luz pela hora da morte, o seu governo estava em meio a uma tempestade, no dia da live, com quatro secretários do Ministério da Economia tendo pedido demissão após Paulo Guedes afirmar que furaria o teto de gastos para acomodar o Auxílio Brasil.

No dia seguinte, Bolsonaro teve que fazer uma coletiva à imprensa ao lado de seu ministro para desmentir os boatos de que Guedes estava de saída, o que levou a um surto do mercado financeiro.

O governo ajudou a sabotar o combate à covid-19, atacando o isolamento social, o uso de máscaras e a compra de vacinas, além de promover remédios inúteis, com o objetivo de empurrar pessoas de volta às ruas para que a economia não atrapalhasse a reeleição. Ironicamente, isso tornou as quarentenas mais ineficazes, estendendo a pandemia e, com isso, a crise econômica.

Além disso, o governo suspendeu o auxílio emergencial em dezembro de 2020, para poupar recursos e fazer com que o povão, com fome, voltasse às ruas, ou seja, deixando as pessoas ao relento no momento mais letal da covid-19. O benefício voltou em abril, quando registrávamos mais de 4 mil mortes por dia. Resultado dessa confusão planejada: os famintos passaram de 19 milhões para 33 milhões em um ano e meio.

Os ataques de Bolsonaro às instituições e a falta de um projeto de Guedes para a economia ajudaram a gerar instabilidade, o que elevou o preço do dólar. Consequentemente, isso teve impacto nos combustíveis, no gás de cozinha e nos alimentos. Paralelamente, a incompetência do governo na gestão hídrica agravou a crise, explodindo o preço da conta de luz.

Ao longo de seu governo, Jair Bolsonaro gastou mais tempo soltando cortinas de fumaça para proteger a si mesmo e aos seus do que preparando projetos para a geração de empregos de qualidade.

A mentira sobre vacina e Aids, contudo, ficou circulando nas redes por um bom tempo, aumentando o poder de fogo dos negacionistas antivacina e reacendendo o preconceito contra pessoas que vivem com HIV - o que campanhas levaram décadas para reduzir.