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Desculpa de Bolsonaro por 'pintou um clima' com adolescentes não é desculpa
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Bolsonaro postou, nesta terça (18), um vídeo com uma tentativa de pedido de desculpas pelo episódio em que declarou que "pintou um clima" com meninas venezuelanas de 14 anos - na ocasião, ele sugeriu que elas estariam fazendo programa. De forma surreal, o presidente usou o seu pedido de desculpas para criticar quem ficou indignado por suas falas, consideradas abjetas.
"Se as minhas palavras, que, por má-fé, foram tiradas de contexto, de alguma forma foram mal entendidas ou provocaram algum constrangimento às nossas irmãs venezuelanas, peço desculpas", afirmou ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e da representante no Brasil de Juan Guaidó, autoproclamado presidente da Venezuela, Maria Teresa Belandria, mostrando que não consegue pedir desculpas não-condicionadas.
Lembremos o que ele havia dito:
"Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei, 'posso entrar na tua casa?' Entrei", afirmou Bolsonaro.
O presidente reclama que suas falas foram retiradas de contexto e que ele não praticou pedofilia. Tenta, dessa forma, se livrar de uma coisa terrível que disse afirmando que não fez algo mais terrível ainda.
Mas a questão central não é o que ele teria feito, mas o que ele disse. A expressão "pintou um clima" usada por um homem de 67 anos para se referir a meninas de 14 é abjeta em qualquer contexto. Reportagem do UOL, aliás, já havia demonstrado que não havia exploração sexual de adolescentes, mas uma ação de uma ONG dando um curso sobre maquiagem e estética.
O governo Bolsonaro, seguindo o padrão da extrema direita global, colocou a ameaça da pedofilia como uma das pautas centrais, incutindo nas famílias um medo de que existe um complô de esquerda para desvirtuar as crianças. A senadora eleita Damares Alves já havia implementado a tática ao mentir afirmando que crianças de três anos tinham os dentes arrancados na Ilha de Marajó para poderem fazer sexo oral sem morder.
Por sorte de Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes, do Tribunal Superior Eleitoral, a quem o presidente chama de "canalha" e "vice de Lula", mandou a campanha do petista tirar do ar as peças em que sugeriria pedofilia por parte de Jair pouco antes do debate de domingo. Afinal, há uma diferença entre declarações abjetas e práticas abjetas. E isso foi usado por Bolsonaro no debate para se vitimizar.
Mas o TSE, em nenhum momento, afirmou que Bolsonaro não disse o que ele de fato disse. E ele ainda está devendo uma desculpa por ter dito que "pintou um clima" com adolescentes.
Ele se diz "indignado" porque as meninas teriam sido expostas por conta da repercussão. Esquece que foi ele quem as tornou alvo ao dar a declaração e sugerir que estivessem sendo sexualmente exploradas.
Custa simplesmente pedir desculpas decentes, presidente? Custa se preocupar de fato com as meninas e não apenas com sua campanha?
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