Leonardo Sakamoto

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Reportagem

Hospital em Gaza recebe ultimato: evacue ou bombas vão cair nos pacientes

"Se vocês não evacuarem o hospital, eles vão bombardeá-lo na cabeça de quem estiver dentro." Foi assim que Mohammed Salha, diretor do hospital Al-Awda do campo de refugiados de Jabalia, norte da Faixa de Gaza, recebeu a ameaça do que aconteceria caso não evacuassem a unidade médica imediatamente.

A coluna conversou com Salha, na manhã deste sábado (4), um dia após o Al-Awda e o Hospital Indonésio, em Beit Lahiya, receberem as ordens das forças de ocupação israelenses para desocuparem seus prédios. O médico disse que não iriam fazer isso porque há pacientes que precisam deles e que, para desocupar a unidade, seriam necessárias ambulâncias e a certeza de que elas teriam um caminho seguro.

O Al-Awda de Jabalia é o último hospital no norte de Gaza que continua fornecendo serviços básicos em meio aos bombardeios, mesmo com a falta de recursos humanos, medicamentos e energia.

"Na última noite, eles bombardearam. Dois de nossos funcionários estão feridos e destruíram o reservatório de combustível, perdemos o suprimento que tínhamos recebido do hospital indonésio quatro dias antes. Agora, estamos sem combustível e sem água dentro do hospital e eles estão bombardeando muito", afirmou ao UOL Mohammed Salha.

"Estamos realmente em um desastre. Todos os nossos departamentos estão cheios de pacientes. Também precisamos muito de medicamentos, suprimentos médicos, comida, além de combustível e água para eles."

Ataques de Israel a instalações médicas em Gaza fizeram com que o Conselho de Segurança das Nações Unidas organizasse uma reunião de emergência para pedir proteção a esse locais nesta sexta.

'Usar jaleco branco é como carregar alvo nas costas'

O alto-comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Turk, apontou que o governo Benjamin Netanyahu não conseguiu comprovar as "evidências irrefutáveis" de que hospitais funcionavam como fachada para combatentes do Hamas. E frisou que a destruição dessas unidades são uma "catástrofe" que "continua a desenrolar-se em Gaza perante os olhos do mundo".

"Contra todas as probabilidades, os profissionais de saúde, a OMS e os parceiros mantiveram serviços funcionando o máximo possível", disse Rik Peeperkorn, representante da OMS para a Cisjordânia e Gaza. Ele apontou que mais de 25% dos 109 mil civis enfrentam ferimentos que podem mudar suas vidas para sempre.

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Salha reportou a situação ao Comitê da Cruz Vermelha Internacional e à Organização Mundial de Saúde. O diretor do Al-Awda afirmou que a OMS está ajudando, mas diz que não está autorizada a realizar missões para visitar a unidade médica.

Contagem da agência da ONU para a saúde aponta que 654 ataques a instalações de saúde em Gaza resultaram em 886 mortes e 1.349 feridos desde outubro de 2023.

Naquele mês, o ataque terrorista do Hamas matou de 1,1 mil pessoas em Israel. Em resposta, o governo de Tel Aviv matou, pelo menos, 45,7 mil palestinos e feriu outros 109 mil. Devido às evidências de crimes de guerra, o Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado de prisão contra o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o ex-ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, e um alto funcionário do Hamas em novembro.

"Usar uniformes e jalecos brancos é como carregar um alvo nas costas", disse a Tanya Haj-Hassan, da ONG Medical Aid for Palestinians às Nações Unidas.

"Precisamos transferir pacientes para outros hospitais porque não há especialistas em número suficiente no norte de Gaza. Mas todas as estradas foram destruídas por Israel. Estamos esperando ajuda", conclui Mohammed Salha.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.