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General que defendeu 'controle' de pobres diz que Lula demonstra covardia
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Ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) durante o governo Michel Temer, o general da reserva Sérgio Etchegoyen disse que foi um ato de "profunda covardia" do presidente Lula afirmar que perdeu a confiança em parte das Forças Armadas.
"Ele sabe desde já que nenhum general vai convocar uma coletiva para responder à ofensa. Então isso é um ato de profunda covardia, porque ele sabe que ninguém vai responder", disse ele ao programa da TV Pampa nesta terça (17).
Etchegoyen ainda questionou sobre a pacificação do país: "Como é que se pacifica o país a partir daí? Como é que se pacificam as Forças Armadas, que são uma instituição de Estado com a qual os governos do PT conviveram por 16 anos?"
As declarações de Lula, que deve se encontrar com os comandantes das três forças e com o ministro da Defesa José Múcio para aparar arestas, ocorrem após os indícios de que a invasão da sede do Poder Executivo contou com o apoio de membros das Forças Armadas, que teriam feito corpo mole, ajudado os golpistas ou mesmo facilitado a sua entrada.
A questão está sob investigação e as próprias Forças Armadas já agiram para indiciar e punir membros que participaram de atos, como o coronel da reserva Adriano Testoni, famoso por aparecer em um vídeo gritando "bando de generais filhos da puta, covardes, Alto Comando do caralho", entre outras coisas, por não terem se engajado no golpe. E o capitão de mar e guerra reformado Vilmar José Fortuna, demitido de cargo que ocupava no Ministério da Defesa.
Golpistas passaram meses acampados em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, sem serem incomodados pelos militares. E, sentindo-se protegidos, usaram os arredores daquela instalação como cabeça de ponte para entrar no Palácio do Planalto, no Congresso Nacional e no STF.
E o Exército sabe exercer o controle total sobre um território quando quer. Durante a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, em 2018, a força montou postos de controle para fotografar, registrar e checar os documentos de moradores de comunidades. Na época, houve fortes críticas de parlamentares da oposição e da sociedade civil sobre o que foi chamado de "postos de fronteira" para pobres saírem ao trabalho ou voltarem para casa.
A medida foi defendida publicamente pelo general Sérgio Etchegoyen.
"Quem achar isso muito ruim não pode entrar no Palácio do Planalto, na sede de um banco, num condomínio ou dentro de uma emissora de rádio. Essas coisas são muito curiosas. A gente quer resolver uma crise dramática e profunda, achando que não vai ter incômodo. Vai ter incômodo", afirmou o então ministro-chefe do GSI em entrevista à rádio Gaúcha, em 26 de fevereiro de 2018, defendendo a identificação dos moradores das favelas e o envio de suas informações para o centro de controle para checagem. A comparação caiu muito mal na época.
Vale lembrar que o interventor federal era o general Braga Netto, que viria a se tornar ministro de Jair Bolsonaro e candidato a vice em sua chapa nas eleições de 2022.
O único controle imposto, no caso dos golpistas, foi no sentido inverso. O Exército impediu a entrada da PM-DF no acampamento na noite do dia 8. Dois blindados foram deslocados para a entrada do Setor Militar Urbano, para deixar claro o recado. Isso foi corroborado em depoimento pelo ex-comandante da PM, Fabio Augusto Vieira, exonerado do cargo após a intervenção federal no DF. As prisões puderam acontecer apenas na manhã seguinte, dando tempo para muitos escaparem.
Na entrevista que concedeu à GloboNews, nesta quarta (18), Lula afirmou que houve um erro dos serviços de inteligência militar, que não alertou para os atos terroristas. Prometeu que todos militares que participaram do caos serão punidos. E avisou que membros das Forças Armadas que querem fazer política que tirem a farda, renunciem a um cargo e fundem um partido. Se o presidente cumprir o que prometeu, daí sim, estará pacificando um país.