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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ministro dos Cavalos indica que governo Lula não se importa com Comunicação

Colunista do UOL

28/02/2023 09h07

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Juscelino Filho (União Brasil) escondeu de sua declaração eleitoral ao menos R$ 2,2 milhões em cavalos de raça usando laranjas, mandou asfaltar uma estrada que corta o próprio haras com recursos do orçamento secreto e usou um avião da Força Aérea e diárias pagas com verba pública para participar de leilões de cavalos no interior paulista.

Ele não veio a público negar as denúncias, fruto de investigações do jornal O Estado de S.Paulo. Elas mostram que Juscelino estaria mais à vontade sem cargo público algum, cuidando de seus animais, ou respondendo a processos por conta do mau uso do dinheiro do contribuinte. Mas ele é ministro das Comunicações.

Quando foi apontado para o cargo, deixando para trás outros cotados como Paulo Teixeira, hoje à frente do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, e o senador Randolfe Rodrigues, líder do governo no Congresso Nacional, muita gente lamentou profundamente. Inclusive dentro do próprio PT.

Não por saberem da capivara equínea do então deputado, mas porque o partido demonstrava mais uma vez que, na hora H, relegava o tema das comunicações para segundo plano ao indicar alguém que não estava qualificado para o tamanho do desafio. Que não sabe a diferença entre telecomunicações e radiodifusão, as duas principais áreas do ministério.

Nesse sentido, as denúncias do Estadão servem como um grande "eu te avisei" direcionado a quem chegou a esse desenho, defendendo a governabilidade acima de tudo. Desenho esse que nem é muito bom porque nem todo União Brasil no Congresso se vê representado pela composição que saiu da montagem ministerial.

O Ministério das Comunicações, por décadas, distribuiu concessões de rádio e TV a políticos, grupos religiosos e empresários não em atendimento ao interesse público, mas às necessidades dos governos de plantão para conquistarem apoio.

Isso consolidou um cabresto eletrônico, em que políticos usam esses veículos para se perpetuar no poder e grupos religiosos, para ampliar seu rebanho. O grosso da população que não tem acesso aos meios de comunicação e não vê seus interesses representados? Que se exploda.

E Juscelino aponta que vai seguir usando a pasta pra fazer negócios, vide sua agenda dos 60 primeiros dias, com encontros empresários do setor e políticos do seu estado. Segue operando como deputado federal, recebendo gente em busca de emendas, mas agora o que tem para entregar são licenças de comunicação.

Havia a expectativa dentro do PT, que levou traulitada de todos os cantos durante o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão de Lula, que o novo governo tivesse aprendido a importância de um Ministério das Comunicações guiado por uma política pública democrática e independente, capitaneado por pessoas tecnicamente competentes e com reputação ilibada.

Não foi isso o que aconteceu. Agora, o governo terá que responder pelas denúncias contra Juscelino. Ou pelo menos dar a ele alguma secretaria que cuida de equinos no Ministério da Agricultura.