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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

No 1º de maio, Lula fez discurso aos trabalhadores; Bolsonaro, aos patrões

25.abr.2023 - Juan Medina/Reuters
Imagem: 25.abr.2023 - Juan Medina/Reuters

Colunista do UOL

30/04/2023 22h42

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O pronunciamento de Lula (PT) para o Dia dos Trabalhadores, transmitido neste domingo (30), anunciou o aumento do salário mínimo e a correção da tabela do Imposto de Renda, sendo dirigido aos trabalhadores. Quatro anos atrás, em seu primeiro discurso para data, Jair Bolsonaro (PL) preferiu falar diretamente aos empregadores, trazendo propostas para desburocratizar os negócios.

Lula usou o pronunciamento para homenagear os trabalhadores, tanto os da ativa, quanto os aposentados. Lembrou que aqueles que atuam com aplicativos e os microeemprendedores também são trabalhadores e que o trabalho é que gera riqueza. Nos últimos quatro anos, representantes do governo Bolsonaro apontavam que eram apenas os empresários que geravam riqueza e encaravam a turma dos aplicativos como um grupo de empreendedores.

O governo Lula prometeu enviar uma proposta ao Congresso Nacional a fim de garantir um patamar digno de remuneração e de proteção à saúde e segurança dos trabalhadores de aplicativos. Até agora, isso não aconteceu.

Sem citar o nome do antecessor, o petista aproveitou para criticar Jair, que interrompeu a política de valorização do salário mínimo e prometeu, mas não cumpriu, reajustar a tabela do IR. Ele anunciou que o mínimo vai a R$ 1.320 a partir desta segunda (1), voltando a ser reajustado acima da inflação. E que a isenção, que subirá a R$ 2.640 a partir de maio, vai a R$ 5 mil até o final de seu mandato.

"Tudo piorou nos últimos anos. O emprego sumiu. Os salários perderam poder de compra. A inflação subiu. Os juros dispararam. Direitos conquistados ao longo de décadas foram destruídos de um dia para o outro. Poucas vezes na história o povo brasileiro foi tratado com tanto desprezo, e teve tão pouco a comemorar", afirmou.

Bolsonaro defendeu empreendedorismo visando ao seu eleitorado

Já Bolsonaro usou o pronunciamento, em 1º de maio de 2019, basicamente para falar da Medida Provisória da Liberdade Econômica e defender o empreendedorismo. Para o então presidente, o que ele chamava de "plena liberdade econômica", passava pela redução do controle e da fiscalização do poder público. Vale lembrar que sem fiscalização laboral, aumenta a exploração do trabalho e, no limite, o trabalho escravo.

Ao afirmar que a proposta iria "desenvolver a atividade econômica de baixo risco para o sustento próprio da sua família", Bolsonaro falava diretamente com uma parcela de seu eleitorado, principalmente da classe média baixa, que foi excluída dos contratos regidos pela CLT ao longo do tempo e buscou empreender para sobreviver.

Sentindo-se ignorada por anos pelo Estado, essa parcela da sociedade passou a não acreditar em proteções garantidas pela lei. Não à toa, portanto, que Bolsonaro tenha dito no pronunciamento que o engrandecimento do cidadão vem apenas por "mérito próprio e sem interferência do Estado".

Empreender é importante para o país. O problema surge quando pessoas são obrigadas a abrirem uma pessoa jurídica, tornando-se trabalhadores precarizados e não empreendedores independentes. Como acontece, por exemplo, com os trabalhadores de aplicativos.

Bolsonaro também ignorou em seu pronunciamento que o IBGE havia trazido, um dia antes, os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, mostrando um crescimento da taxa de desemprego de 11,6% para 12,7%. Claro que a responsabilidade pelo abacaxi do desemprego não era de Jair, que estava há quatro meses no cargo. Mas ele era culpado de apenas reclamar da fruta, sem propor como, de fato, descascá-la.

Até aquele momento, o seu governo não havia apresentado nenhuma política nacional para a geração de emprego e renda.

Havia uma certa coerência nisso tudo. Afinal, Bolsonaro havia criticado duramente, nas eleições de 2018, o emprego formal e o pacote de direitos que o circunda. Um dos mantras de sua administração foi de que "o trabalhador vai ter que decidir se quer menos direitos e emprego, ou todos os direitos e desemprego". Como se essa relação fosse necessariamente binária.

Através da proposta do Carteira de Trabalho Verde e Amarela sugeriu a criação de uma categoria que estaria sujeita a menos proteção que as demais, liberando o empregador do cumprimento de toda de qualquer proteção prevista em outras leis, bastando para isso a concordância do candidato a uma vaga. Que, no desespero, aceitaria qualquer coisa.

A ideia, por sorte, não foi para frente no Congresso Nacional.