Leonardo Sakamoto

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Opinião

Milícia sequestra parte do Rio após morte de criminoso e mostra quem manda

A maior milícia do Estado do Rio de Janeiro resolveu travar a Zona Oeste da capital fluminense após Matheus da Silva Rezende, conhecido como Faustão, sobrinho de Zinho, que controla o grupo criminoso, ter sido morto em confronto com a Polícia Civil. O fato de ter conseguido fazer isso com alguns litros de gasolina demonstra a falência do poder público.

Pelo menos 35 ônibus e um trem foram incendiados em retaliação. O BRT foi interrompido. Prisões foram feitas, mas o caos estava instalado.

Enquanto o pau comia e ônibus eram incendiados pelos criminosos como retaliação, o governador parecia viver uma realidade paralela no "Castroverso". Comemorando "um duro golpe na maior milícia da Zona Oeste" no X/Twitter, ele escreveu às 17h02: "O crime organizado que não ouse desafiar o poder do Estado".

Não só desafiou como trancou parte da capital. E como Cláudio Castro parabenizou a polícia pela "prisão" de Faustão, quando o miliciano havia sido morto, conclui-se que ele não havia sido devidamente informado do que estava acontecendo.

Melhor informado estava o prefeito Eduardo Paes que, 12 minutos depois da publicação de Castro, criticava os milicianos pela queima dos ônibus, afirmando que eles interrompiam os serviços de transporte na Zona Oeste. "Como prefeito, apelo ao governo do Estado e ao Ministério da Justiça para que atuem para impedir que fatos assim se repitam", postou, reconhecendo a devida gravidade do que estava acontecendo.

Horas depois, Castro anunciou que um "plano de contingência" já estava ativo desde o início do que chamou de ações terroristas. "Queria lamentar o ocorrido no dia de hoje e os transtornos, mas queria garantir que nós não arrefeceremos em nada na luta contra a criminalidade", afirmou. "O mal não vencerá o bem." Mas hoje venceu.

Um trabalho de inteligência poderia mitigar o impacto dessa vingança contra a sociedade - sim, sociedade, porque quem sofre com isso são os trabalhadores que terão que se apertar ainda mais nos ônibus que restaram.

Inteligência que, integrada aos sistemas nacionais, poderia estrangular financeiramente as milícias. Mas isso significa bater de frente com interesses de políticos e policiais que atuam em parceria com esses grupos criminosos que foram elogiados até por um ex-presidente da República. Para tanto, faltam planos, faltam recursos, falta vontade, falta coragem.

As cenas de guerra na capital, na verdade, mostram um recado às avessas: "O Estado que não ouse desafiar o poder da milícia".

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL