Leonardo Sakamoto

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Opinião

Bolsonaristas chiam, mas defenderam bandido ao tentar livrar Brazão da cela

Após tentarem tirar da cadeia o colega Chiquinho Brazão, apontado pela Polícia Federal como o mandante do assassinato de Marielle Franco, bolsonaristas perderam a moral de chamar qualquer ser humano de "defensor de bandidos". Mesmo assim, untados em óleo de peroba, agora acusam Lula nas redes e no Congresso de defender criminosos ao sancionar com vetos a nova "Lei das Saidinhas".

O presidente manteve o benefício em datas comemorativas para visitar familiares a quem já está no regime semiaberto e tem bom comportamento, desde que use tornozeleira eletrônica. Há uma grande chance de o Congresso Nacional derrubar o veto, mantendo a saída apenas para trabalho e estudo (o benefício vale para ensinos profissionalizante, médio e superior sendo que a maioria dos presos não tem nem o fundamental completo).

O veto é decorrente da avaliação da equipe do ministro da Justiça Ricardo Lewandowski de que o impedimento de saída temporária para detentos começarem sua ressocialização através do convívio social pode gerar rebeliões nos presídios — que, há anos, são um barril de pólvora. Como há parlamentares mais interessados em provocar o caos para que seu grupo volte ao poder do que no país, então investem no "quanto pior, melhor" e no discurso que vende uma saída ilusória para conter a criminalidade.

Na quarta (10), o plenário da Câmara manteve a prisão preventiva do deputado federal Chiquinho Brazão (hoje, sem partido, ex-União Brasil), que havia sido decretada pelo Supremo Tribunal Federal, por 277 votos a 129. Ele é apontado como o responsável por ordenar a morte da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018, e interferir nas investigações do crime pelos anos seguintes.

Um dos grupos mais aguerridos na luta para libertá-lo foi o dos bolsonaristas, os mesmos que, agora, ironicamente, chamam Lula de defensor de bandidos.

Como disse aqui, o bolsonarismo e setores do centrão venderam a ideia de que a libertação não tinha a ver com Brazão, mas era um recado ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes de que o Poder Judiciário não manda no Legislativo. Na verdade, os principais recados foram à sociedade: 1) mandatos parlamentares servem sim para cometer e acobertar crimes; 2) mexeu com miliciano, mexeu comigo; 3) quem mandou Marielle ser negra, de origem pobre e LGBTQI+?

Para um grupo acostumado a bradar "bandido bom é bandido morto", a defesa de Brazão foi como se colocassem um adendo: "bandido bom é bandido morto, com exceção dos nossos bandidos, daí bandido bom é bandido livre". A questão não é falta de coerência dos parlamentares, mas oportunismo. O que surpreende, portanto, não é o comportamento deles, mas de quem consome isso bovinamente, aceitando que uma contradição é válida desde que seja para ferrar um adversário.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL