PM que mata delator em aeroporto põe Brasil rumo a narcoestado do PCC
Um cabo da Polícia Militar de São Paulo foi preso, nesta quinta (16), pela Corregedoria da PM, acusado de ser uma das pessoas que fuzilou Antonio Vinícius Gritzbach, o delator do PCC morto no aeroporto de Guarulhos em 8 de novembro do ano passado. Outros policiais também são alvos da Operação Prodotes, deflagrada para desarticular o envolvimento de PMs com narcotraficantes ligados ao PCC, segundo informou Jozmar Jozino, no UOL.
Um delegado e investigadores da Polícia Civil de São Paulo já haviam sido presos, em uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público de São Paulo, por terem sido denunciados por corrupção por Gritzbach. Policiais teriam recebido milhões para não prender membros da facção e não atrapalhar o tráfico de drogas.
Ao comunicar a prisão de hoje, Tarcísio, de forma otimista, disse que "a PM está punindo a PM". Mas a execução no terminal 2 do aeroporto, uma área de segurança, à luz do dia, por um policial militar da ativa que estaria a serviço do PCC, mostra uma grave infiltração do crime nas instituições públicas. E indica que estamos caminhando a passos largos para nos tornarmos um narcoestado.
Vamos sublinhar o que aconteceu: o maior aeroporto do país e um dos maiores do mundo, principal porta de entrada para visitando ao país, que recebeu 41,3 milhões de passageiros em 2023, foi palco de, ao que tudo indica, uma operação de vingança ou de queima de arquivo que não se importou com a multidão que lá estava. Tanto que, além do delator, também morreu o motorista de aplicativo Celso de Morais.
A imagem que isso reforça ao Brasil e ao mundo é de que criminosos sentem-se à vontade de fazer o que querem na hora que desejam, com a certeza da impunidade, pois contam com a proteção armada de agentes da segurança pública.
Como já disse aqui, moradores das periferias podem retrucar que isso acontece com eles diariamente, com as mortes causadas pelo tráfico de drogas, por milícias ou por policiais — e terão toda a razão. Mas o fato de uma execução ocorrer em um local que, teoricamente, é um dos mais seguros do país, monitorado pelas Polícias Federal e Militar, e cometido por policiais, aponta uma situação aterradora.
Não acredite em quem diz que facções criminosas estão tentando tornar-se parte integrante da vida brasileira. Elas já estão, há tempos, na lavagem de dinheiro através de companhias de ônibus, nos acordos de máfias de perueiros, em licitações fraudulentas que sangram os cofres públicos, em parcerias entre guardas e policiais e o crime, na contenção violenta a movimentos sociais, na grana derramada para eleger ou reeleger parças.
E enquanto isso, policiais matam crianças pequenas em operações na periferia, jovens são jogados da ponte e estudantes de medicina morrem executados à queima-roupa. O que mostra o fracasso das políticas de alta letalidade policial de estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.
Tarcísio ligou Boulos a PCC, mas foi PM sob seu governo que executou delator
A promiscuidade entre policiais e o PCC não surgiu no governo Tarcísio de Freitas, mas a prisão do cabo mostra que as sacanagens continuaram existindo sob a atual gestão.
Vou repetir o que já afirmei aqui: é o sumo da ironia que isso ocorra depois de o governador afirmar que o Primeiro Comando da Capital orientou o voto em Guilherme Boulos, adversário de seu candidato, Ricardo Nunes. Sim, enquanto Tarcísio falava que o PCC mandava votar no Boulos (e todo mundo esqueceu esse crime eleitoral no dia do segundo turno da eleição), era um policial sob o seu governo que fazia um serviço sujo útil aos policiais corruptos e à própria facção.
Tarcísio foi duramente criticado por conta do abuso de poder político e propagação de notícia falsa que o caso representa. Isso não foi fundamental para a reeleição do seu apadrinhado, mas não é possível dizer que os números finais não sofreram influência de sua entrevista a jornalistas.
A Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo havia dito que interceptou comunicados assinados por membros do PCC orientando o voto em algumas cidades. A questão merecia investigação e o tratamento adequado, tanto para verificar a autenticidade dessas comunicações, quanto para indicar se as campanhas sabiam disso. Sim, bilhetes também podem ser falsificados.
Por isso, ao ser questionado sobre a questão, ele só poderia abordá-la apresentando as devidas provas. Ou, o que seria mais correto, convocar uma coletiva à imprensa após a votação. Mas resolveu fazer isso no local onde ele havia votado e, pior, ao lado do prefeito Ricardo Nunes.
Seria salutar que além de enterrar a letalidade policial como política de segurança pública, tanto o governador quanto o secretário Guilherme Derrite aproveitassem essas deixas para se dedicar profundamente a separar agentes de segurança de bandidos.