Leonardo Sakamoto

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Opinião

Netanyahu, o Açougueiro de Gaza, junta mundo em prol do Estado da Palestina

Benjamin "Açougueiro de Gaza" Netanyahu conseguiu a façanha de criar uma onda de empatia com o direito dos palestinos à sua autodeterminação. Seus crimes de guerra empurraram Israel do papel de vítima dos atentados terroristas de 7 de outubro para o de vilão de uma tentativa de genocídio. Que, se não for parada, corre o risco de ser bem sucedida.

O gesto dos governos da Espanha, da Irlanda e da Noruega, avalizando o direito desse povo a um Estado independente e soberano, nesta quarta (22), bem como a votação acachapante da Assembleia Geral das Nações Unidas pedindo o reconhecimento da Palestina como membro pleno da organização, têm caráter simbólico, mas demonstram que a paciência do mundo civilizado está se esgotando.

São mais de 35,7 mil mortos e quase 80 mil feridos, além de milhões de pessoas que foram obrigadas a deixar suas casas para viver em meio à cólera e outras doenças em campos de refugiados, sem água e sem comida, jogadas de um lado para o outro ao sabor das necessidades militares e políticas do Exército invasor.

Enquanto isso, as ações tomadas pelo Açougueiro de Gaza e seus aliados ultraconservadores (que já defenderam publicamente a limpeza étnica do território) não garantiram a libertação das dezenas de reféns, nem a prisão dos responsáveis pelo 1.139 mortos em Israel, pelo contrário. Protestos se avolumam em Tel Aviv pedindo a saída do primeiro-ministro e são reprimidos com violência.

Enquanto os Estados Unidos vetarem, a partir do Conselho de Segurança, a entrada do novo Estado, nada feito, claro. Mas ações como as dos três países europeus aumentam o custo do próprio Tio Sam para sustentar o apoio aos crimes de guerra cometidos por Netanyahu e seu gabinete.

E até o dia 28 de maio, quando os três países farão o reconhecimento formal, mais nações devem se juntar a eles. Hoje, são mais de 140, incluindo o Brasil.

Perdendo votos de progressistas e árabes, horrorizados com o morticínio em Gaza, o governo Joe Biden tem modulado o discurso, dizendo que Netanyahu "prejudica mais do que ajuda Israel", liberando até o líder da maioria democrata no Senado dos EUA, Chuck Schumer, judeu, a pedir novas eleições em Israel e mandando ajuda (quer dizer, migalha) humanitária. Nada disso muda o curso da guerra, o que pode custar caro para Biden em novembro.

Israel é uma democracia, mas Netanyahu não é civilizado, que dirá democrata. Ele vem aplicando uma estratégia de terra arrasada a fim de gerar um fato político que o mantenha no poder quando a guerra terminar. Casos de corrução, interferência na Suprema Corte e incompetência em prever os ataques do Hamas mesmo com um dos melhores serviços de inteligência do mundo pesam contra ele.

O preço de sua estratégia para evitar ser preso pela Justiça de Israel ao sair do poder vem sendo o genocídio palestino. Por conta disso, a procuradoria do Tribunal Penal Internacional pediu a prisão de Netanyahu, do ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant (que chamou os palestinos de "animais") e de líderes do Hamas. Israel não reconhece a competência do tribunal, mas o efeito de ter seu líder condenado por genocídio seria péssimo para o julgamento público de sua imagem e para o apoio de aliados.

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Terminar seus dias atrás das grades seria o fim mais adequado ao Açougueiro de Gaza tal como foi com o líder sérvio Ratko Mladic, o Açougueiro dos Balcãs, condenado por genocídio na Bósnia.

Os julgamentos dos tribunais da ONU, contudo, ocorrem muito tempo depois, buscando evitar que a humanidade volte a cometer os mesmos crimes. A tragédia é que o crime vem sendo cometido neste momento, com corpos amontoando dia após dia. Ou o mundo dá um basta ao que Netanyahu está produzindo ou terá que se sentar no banco dos réus da História junto com ele no futuro.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL