Três países europeus reconhecem Estado palestino; Israel retira diplomatas
Num gesto coordenado e de impacto político, os governos da Irlanda, Noruega e Espanha anunciaram nesta manhã o reconhecimento unilateral de independência e soberania do Estado palestino.
Israel reagiu, convocando seus embaixadores na Irlanda e Noruega para "consultas urgentes", e alertou que "medida semelhante" pode ocorrer contra a Espanha — o posto na embaixada de Israel no país ibérico está vago.
A medida coloca ainda mais pressão sobre o governo de Benjamin Netanyahu — no início da semana, a procuradoria do Tribunal Penal Internacional divulgou o pedido para que os juízes considerem uma ordem internacional de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, por crimes de guerra e contra a humanidade em Gaza.
No G7, nenhum governo reconhece a Palestina. Mas a esperança de Madri, Dublin e Oslo é que o gesto seja seguido por outros países europeus e que coloque pressão nos Estados Unidos para rever sua posição. No Velho Continente, apenas nove países adotam tal postura.
Em 2014, a Suécia havia sido o único país europeu na história a reconhecer a Palestina, enquanto já era parte da UE. Os demais, principalmente no Leste Europeu, tinham dado o status para os palestinos ainda nos anos da Guerra Fria e como parte do bloco soviético.
Desde 1988, 144 países dos 193 membros da ONU já reconheceram o Estado palestino, entre eles o Brasil.
Países da União Europeia que reconhecem o Estado da Palestina:
- Polônia
- Bulgária
- Romênia
- Hungria
- República Tcheca
- Eslováquia
- Chipre
- Malta
- Suécia (única a reconhecer depois de já entrar na UE).
- Espanha
- Irlanda
Países europeus que não fazem parte da UE e reconhecem a Palestina:
- Islândia
- Ucrânia
- Albânia
- Sérvia
- Montenegro
- Noruega
Como foram os anúncios nos 3 países
Ainda que a decisão não mude a realidade da guerra em Gaza, a lógica do anúncio é a de relançar a ideia de que a paz no Oriente Médio apenas poderá ocorrer com o estabelecimento de uma solução para a existência de dois Estados. Críticos alertam que Israel fez de tudo para inviabilizar a existência de um Estado palestino nos últimos meses.
O reconhecimento também significa que, a partir de agora, esses países consideram as fronteiras de 1967 e que qualquer violação a isso significa que Israel é a potência ocupante.
Jonas Gahr Store, primeiro-ministro da Noruega, foi o primeiro a fazer o anúncio. Ele explicou que o reconhecimento tem como meta atingir a paz na região. Segundo o norueguês, a solução de dois Estados é de "interesse de Israel" também. No caso de Oslo, o reconhecimento começa a valer a partir do dia 28 de maio.
Instantes depois, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez, também anunciou o reconhecimento palestino. Ele indicou que, em conversas com outros líderes europeus, recebeu a informação de que outros países também farão anúncios no mesmo sentido nas próximas semanas.
Pedimos um cessar-fogo. Mas não é suficiente. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu se faz de surdo e continua castigando a população palestina.
Pedro Sanchez, premiê espanhol, diante do Parlamento do país
O que está claro é que Netanyahu não tem um projeto de paz. Lutar contra o Hamas é legítimo. Mas sua operação coloca a solução de dois Estados em sério perigo. O que faz apenas ampliar o ódio.
Sanchez anunciou que vai aprovar o reconhecimento da Palestina também no dia 28 de maio. "Só há uma solução: a criação de dois Estados", disse, explicando que isso não significa o reconhecimento ou apoio ao Hamas. "Tomamos essa decisão por paz, por justiça e por coerência. Não é uma decisão contra ninguém. Hamas não quer esse reconhecimento."
"A comunidade internacional tem uma dívida histórica com o povo palestino", completou, lembrando de como as resoluções da ONU contra Israel foram ignoradas.
Aliada histórica dos EUA, a Irlanda também adotou a mesma decisão. O primeiro-ministro Simon Harris anunciou que seu país reconhecerá o Estado palestino e lembrou como a própria história irlandesa foi marcada pela necessidade de um reconhecimento internacional de sua soberania e independência.
"A paz permanente só pode ser garantida com base na vontade livre de um povo livre", disse. Para Harris, "os palestinos em Gaza estão suportando os mais terríveis sofrimentos, dificuldades e fome". "Uma catástrofe humanitária, inimaginável para a maioria e inaceitável para todos, está se desenrolando em tempo real", disse.
A reação de Israel
A iniciativa dos europeus está sendo duramente atacada por Israel, que alega que os governos do Velho Continente dão força ao Hamas ao agir desta forma.
Imediatamente após o anúncio, o governo de Benjamin Netanyahu anunciou a convocação para que seus representantes na Irlanda e Noruega voltem para Tel Aviv.
"Estou enviando uma mensagem clara à Irlanda e à Noruega. Israel não recuará contra aqueles que minam sua soberania e colocam em risco sua segurança", disse o ministro das Relações Exteriores, Israel Katz.
Israel não vai aceitar isso em silêncio. Haverá outras consequências graves. Se a Espanha concretizar sua intenção de reconhecer um Estado palestino, uma medida semelhante será tomada contra ela.
Ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz
A decisão de hoje envia uma mensagem aos palestinos e ao mundo: o terrorismo compensa. Depois que a organização terrorista Hamas realizou o maior massacre de judeus desde o Holocausto, depois de cometer crimes sexuais hediondos testemunhados pelo mundo, esses países decidiram recompensar o Hamas e o Irã reconhecendo um Estado palestino.
"Essa medida distorcida desses países é uma injustiça com a memória das vítimas do dia 7/10, um golpe nos esforços para devolver os 128 reféns e um estímulo aos jihadistas do Hamas e do Irã, o que prejudica a chance de paz e questiona o direito de Israel à autodefesa", completou o israelense.
Palestinos comemoram "nova tendência"
Para as autoridades palestinas, os anúncios coordenados por parte dos europeus é um "momento histórico" e mostra uma "nova tendência" entre as potências ocidentais.
EUA vetaram reconhecimento da Palestina
Com o patrocínio e voto do Itamaraty, a Assembleia Geral da ONU aprovou no início do mês uma resolução que pede o reconhecimento da Palestina como um Estado soberano, defende a entrada do país nas Nações Unidas e amplia os direitos dos palestinos nos trabalhos do organismo internacional.
Votaram contra o projeto apenas 9 países: EUA, Israel, Argentina, Hungria, Nauru, Palau, Micronésia, República Tcheca e Papua-Nova Guiné. Outros 25 países optaram pela abstenção, entre eles Alemanha, Paraguai, Suíça, Itália e Reino Unido.
O ato, porém, ainda não garante a adesão, já que ela precisa passar pelo Conselho de Segurança da ONU, onde o governo dos EUA já vetou a proposta no mês passado.
Em abril, Joe Biden foi o único a vetar a resolução para autorizar a Palestina a ser membro pleno da ONU. O governo americano alega que a adesão palestina e seu status como país devem ser resultado de uma negociação com Israel, e não um ato por parte da comunidade internacional.
Com o veto dos EUA, o Conselho de Segurança não aprovou a adesão palestina. Pelas regras do órgão, basta que um dos cinco membros permanentes do conselho vete uma proposta para que o projeto seja engavetado.
Na ocasião, o embaixador de Israel, Guilad Erdan, afirmou que a aprovação da ONU era "o dia da infâmia".
"Vocês vão aprovar um Estado terrorista, liderado pelo Hitler de nosso tempo", disse o diplomata aos demais governos. "Vocês estão abrindo a ONU a um grupo terrorista. Isso me faz sentir doente", disse.
Ele terminou seu discurso com uma cena que entrará para a história da entidade — usou uma máquina de picar papéis para destruir a Carta da ONU, diante de todas as delegações. "Esse é o espelho de todos vocês", disse.
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