Aprovação do governo Lula caiu 7 pontos enquanto preço do arroz subiu 10
Pesquisa CNT/MDA, divulgada nesta terça (12), aponta que a gestão do presidente Lula foi considerada como ótima ou boa por 42,7% dos entrevistados em janeiro e por 35,5% agora - uma queda de 7,2 pontos. No mesmo período, a alimentação em domicílio subiu 5%, mais do que a inflação no período (3,9%), segundo o IPCA de outubro. Há uma relação inversa entre a redução na avaliação e a alta no preço da comida, que é mais dura principalmente com os mais pobres.
A taxa de desemprego, hoje em 6,4%, caminha para atingir a mínima histórica desde que a atual série do IBGE começou em 2012, o crescimento da economia deve passar os 3% e a renda média dos trabalhadores cresceu 3,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. Mas o preço das coisas, que já estava alto pela inflação acumulada nos últimos dois anos da gestão Bolsonaro, segue aumentando. As pessoas estão empregadas e ganhando mais, mas o salário já não compra como antes.
Essa mesma situação (desemprego em baixa, renda em alta, PIB crescendo e custo de vida alto) levou à derrota de Kamala Harris na eleição presidencial norte-americana. A percepção da piora na qualidade de vida entre trabalhadores brancos, mas também latinos e negros, foi muito bem explorada por seu adversário, Donald Trump.
Preocupada com essa situação, a ala econômica do governo Lula e uma parte do PT tentam aprovar um ajuste fiscal baseado em um corte estrutural de gastos, mostrando ao mercado que o Poder Executivo vai cumprir o arcabouço fiscal. Defendem que isso pode melhorar o ambiente de negócios, trazer investidores ao país, reduzir o dólar e, com isso, derrubar juros e inflação. Inflação que, na prática, é o pior dos impostos contra os pobres.
Do outro lado, parte do governo, do PT e da base no Congresso estão alertando que a chicotada virá no lombo da classe trabalhadora, com a desvinculação constitucional das receitas para a educação e saúde pública e pancadas sobre quem depende do BPC e do seguro-desemprego. Por isso, tentam reduzir a pancada nos pobres e colocar os ricos na roda.
Sim, tradicionalmente os ajustes são feitos nas costas dos que não sem-lobby em Brasília, como os mais vulneráveis, enquanto dividendos de super-ricos e benefícios fiscais a certos setores econômicos poderosos são verdades incontestáveis, como um 11º mandamento do livro do Êxodo.
De qualquer forma, seja pela persistência da inflação ou pela redução de gastos públicos visando o bem-estar social, os mais pobres vão sentir. A questão é onde sentirão menos.
Para garantir que Lula se reeleja ou aponte um sucessor em 2026, os trabalhadores terão que perceber a melhora na qualidade de vida. Isso dependerá de como os efeitos da escolha a ser tomada pelo presidente vão ser sentidos por eles — que foram fundamentais para a derrota de Bolsonaro, mas esperam uma melhora significativa na sua qualidade de vida para voltar a dar o seu voto daqui a dois anos ou não.