Paes tenta fugir de polarização, enquanto Ramagem busca colar em Bolsonaro
O primeiro debate entre os pré-candidatos à Prefeitura do Rio vai testar a força do presidente Lula (PT) e de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), como cabos eleitorais dos líderes nas pesquisas: o atual prefeito, Eduardo Paes (PSD), e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL).
O evento, previsto para a noite desta quinta-feira (8) na Band, é a oportunidade para os políticos apresentarem seu "cartão de visitas" e quando devem usar estratégias diferentes.
Paes tenta a reeleição e chega como favorito na disputa, com pesquisas que o apontam com condições de vencer no primeiro turno. Ele tem o apoio de Lula, mas desagrada muitos parlamentares petistas no Rio.
Ele vai defender sua gestão, focar o discurso nos problemas do Rio, tentar evitar a nacionalização da disputa e destacar que um aliado de seu principal adversário —o governador Cláudio Castro (PL)— também tem responsabilidade em temas problemáticos na cidade, como transporte e segurança pública.
Já Ramagem, que esteve à frente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) durante o governo Bolsonaro e é alvo de investigações relacionadas à sua atuação no cargo, depende do ex-presidente para se tornar conhecido entre o eleitorado.
Ele vai explorar sua ligação com o padrinho político, associar Paes a Lula e insistir na pauta de segurança pública como principal bandeira de campanha, se desvencilhando das críticas ao governador, que é do seu partido. A questão da segurança aparece no topo dos problemas citados pelos moradores da cidade, e Ramagem pretende explorar sua imagem como delegado da Polícia Federal.
O peso dos apoios de Lula e Bolsonaro
As pesquisas Datafolha e Quaest têm mostrado uma pré-campanha confortável para Eduardo Paes, com cenários em que ele obtém mais de 50% dos votos válidos e vence no primeiro turno. Levantamento da Quaest divulgado em julho indica que aumentou o peso da influência dos padrinhos políticos: eles podem ajudar a tirar ou somar votos, em especial entre o eleitor bolsonarista, e, assim, levar a eleição do Rio para o segundo turno.
Por isso, o PL de Ramagem aposta na estratégia de apresentar o pré-candidato —que desponta em segundo lugar— como o nome de Bolsonaro para a prefeitura. Pesquisas internas indicam que 29% dos bolsonaristas do Rio não sabem quem é o nome do ex-presidente na cidade, diz o coordenador da campanha, senador Carlos Portinho (PL-RJ).
Quando a Quaest pergunta especificamente sobre os concorrentes e seus padrinhos, o cenário piora para o atual prefeito e melhora para seu principal adversário: sem a menção do apoio, Paes tem 52%, mas, quando o apoio de Lula é citado, baixa para 46% das intenções de votos. Ou seja, o petista tira seis pontos. Já Ramagem passa de 14% para 30% com a menção a Bolsonaro —portanto, o ex-presidente mais que dobra o potencial do deputado. É este campo que o PL quer explorar.
No entanto, aliados de Paes entendem que há espaço para o prefeito se desvencilhar da nacionalização da eleição. Na sabatina Folha/UOL, o deputado Tarcísio Motta (PSOL) afirmou que Paes vai esconder Lula na campanha. Ele acrescentou que o eleitor do presidente vai se identificar com sua candidatura porque o seu programa de governo "é o da esquerda".
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Paes comandou a Prefeitura do Rio entre 2009 e 2016. Assumiu o terceiro mandato em 2020. Com isso, tem histórico para apresentar ações que deram certo em suas gestões. Mas também abre espaço para ser criticado pelos adversários por aquilo que não deu certo.
O prefeito tem sido cobrado por promessas de campanha não cumpridas — por exemplo, a ampliação de moradias populares. Como resposta, tem destacado os feitos de sua gestão. Levantamento feito pelo g1 mostra que ele cumpriu, em parte ou totalmente, 90% das promessas feitas na campanha de 2020, dado já citado por ele em entrevista.
Aliado de Ramagem, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que é preciso mostrar que o prefeito não merece um quarto mandato. Segundo ele, é preciso argumentar que Paes promete construir um Rio de Janeiro "que não tirou do papel" nos três mandatos que teve.
Os adversários também têm espaço para questionar se Paes vai cumprir o mandato integralmente. Ele disputou o governo do estado em 2018, mas perdeu para a Wilson Witzel e Cláudio Castro, que assumiu e foi reeleito em 2022. Nesta semana, ele disse que vai cumprir os quatro anos de mandato, rebatendo especulações de que pode deixar o cargo para se candidatar a governador do Rio em 2026.
Tarcísio: 'a esquerda na disputa'
Terceiro colocado nas pesquisas, Tarcísio Motta vai se apresentar como única alternativa de esquerda, disse Juan Leal, presidente do PSOL carioca. Ele vai afirmar que está enfrentando o fascismo e encara Ramagem como concorrente à vaga para o segundo turno contra Paes.
O presidente municipal do partido ressalta que as pesquisas apontam cerca de 10% das intenções de votos, melhor largada do PSOL em suas campanhas na cidade. O plano é mostrar a crise social no Rio, apontando Paes como um dos responsáveis pela situação. Haverá propostas relacionadas à educação e promessa de gratuidade na passagem de ônibus de sexta a domingo.
Jual Leal acrescenta que Tarcísio vai se apresentar como único nome que não tem ligação com escândalos. "O único pré-candidato desta eleição que jamais teve qualquer tipo de relação com as máfias que governam a cidade há décadas. Vamos explorar isso."
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