Letícia Casado

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Reportagem

O que Cid disse nas delações sobre filhos de Bolsonaro e sobre Michelle

O fim do sigilo da delação premiada do antigo ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid, revelou informações sobre como filhos e a esposa de Jair Bolsonaro teriam participado do plano de golpe de Estado denunciado pela PGR.

Segundo a delação, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) faziam parte da ala mais radical no entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e apoiavam o discurso de golpe de Estado. Já o senador Flávio, o filho primogênito do clã, foi contra a ruptura institucional.

Em 2022, Michelle e Eduardo, junto com parlamentares e ministros bolsonaristas, "conversavam constantemente com o ex-presidente, instigando-o para dar um golpe de Estado", disse Cid. O grupo, segundo ele, alimentava a ideia de que o ex-presidente tinha o apoio do povo e dos atiradores esportivos, conhecidos como CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), para dar o golpe.

O incentivo de Michelle e Eduardo ao plano foi revelado pelo colunista do UOL Aguirre Talento em novembro de 2023. Na época, a defesa de Jair e Michelle Bolsonaro classificou as acusações de "absurdas" e disse que as declarações não são amparadas em elementos de prova.

Sobre Michelle, Cid disse ainda que a auxiliou em pagamentos utilizando dinheiro de contas pessoais do ex-presidente, com valores que não envolviam verba pública.

Grupo dos 'moderados'

Por sua vez, Flávio Bolsonaro fazia parte do "grupo dos moderados", disse Mauro Cid aos investigadores.

Essa ala era formada por Bruno Bianco (então advogado-geral da União), Ciro Nogueira (que ocupava a Casa Civil do governo) e por alguns militares de alta patente, como o brigadeiro Batista Júnior (então comandante da Aeronáutica).

Eles não concordavam sobre o caminho pelo qual o Brasil estava indo, disse Mauro Cid: entendiam que havia abusos jurídicos, prisões e relações institucionais questionáveis. Mas afirmavam que nada poderia ser feito diante do resultado das eleições e "que qualquer coisa em outro sentido seria um golpe armado; que representaria um regime militar por mais 20, 30 anos" e, portanto, eram "totalmente contra isso".

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Gabinete do ódio

Cid também falou sobre outro filho do ex-presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ). Disse que, com três assessores do pai, ele integrava o "gabinete do ódio", grupo voltado para "criação e repercussão de notícias não lastreadas ou conhecidamente falsas com o objetivo de atacar integrantes de instituições públicas, desacreditar o processo eleitoral brasileiro, reforçar o discurso de polarização".

"As referidas pessoas administravam a conta de diversas redes sociais do ex-presidente (exceto Facebook e WhatsApp), O colaborador ainda relatou que o ex-presidente era o responsável direto pelas mensagens, contendo informações falsas, encaminhadas de seu telefone por meio do aplicativo WhatsApp", informa o documento.

Segundo Cid, "basicamente eles que ficavam fazendo o acompanhamento das mídias sociais", sentiam a temperatura das redes e faziam contato com influenciadores digitais. Carlos Bolsonaro "ditava o que eles teriam que colocar, falar", disse o delator.

Em outubro de 2024, Carlos Bolsonaro disse em entrevista à coluna que ele atualiza as redes do pai desde 2010 com uma metodologia criada por ele mesmo para atualizar dezenas de canais com diferentes conteúdos. Também afirmou que não procede o apelido de "gabinete do ódio" para o grupo.

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