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Marco Antonio Villa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula continua o mesmo da época do mensalão

14.out.2004 - Roberto Jefferson com o então presidente Lula e o ministro José Dirceu, à época, em jantar oferecido pelo petebista em Brasília  - Alan Marques /Folhapress
14.out.2004 - Roberto Jefferson com o então presidente Lula e o ministro José Dirceu, à época, em jantar oferecido pelo petebista em Brasília Imagem: Alan Marques /Folhapress

Colunista do UOL

11/11/2021 11h32

O Brasil contemporâneo é um país caricato. O noticiário político é tomado por fofocas, serias divergências sobre a forma de saquear o erário e uma ou outra ideia perdida em meio a barafunda de mediocridades. Personagens vão e voltam sem que no caminho possam ter dado algum tipo de contribuição à república.

Roberto Jefferson que tinha desaparecido por um bom tempo das páginas reservadas à política - estava restrito ao noticiário policial - fez uma conversão ao bolsonarismo tão sincera como foi lulista na primeira década deste século. Presumo que o Brasil não tenha esquecido que o "comunista" Lula —tão comunista que durante seu governo os bancos tiveram os maiores lucros da história e o grande capital se locupletou em negócios nem sempre republicanos— tinha Bob Jeff em alta conta, tanto que proclamou aos quatro ventos que daria um chegue em branco devidamente assinado ao presidente do PTB. E na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados defendeu entusiasticamente o então presidente Lula ("é um homem de bem"; "Daria um cheque em branco ao presidente Lula, retribuindo a confiança dele em mim"). E exigiu a demissão de José Dirceu —ministro-chefe da Casa Civil: "Se você não sair daí rápido, você vai fazer réu um homem inocente, que é o presidente Lula. Sai daí rápido." Obteve êxito no seu pleito.

Já Valdemar da Costa Neto, o "boy" de Mogi das Cruzes, em 2002 vendeu o PL para o PT numa reunião em Brasília em um apartamento funcional de um deputado petista. Foi, para os padrões atuais, um preço módico: dez milhões de reais. A aliança, que teve José de Alencar como vice-presidente na chapa petista, estabeleceu o modus vivendi do governo Lula.

Tanto Valdemar como Jefferson foram réus na Ação Penal 470, o processo do mensalão. E foram sentenciados pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O decano do STF, ministro Celso de Mello, considerou os mensaleiros como marginais do poder: "estamos tratando de macrodelinquência governamental, da utilização abusiva e criminosa do aparato governamental ou do aparato partidário por seus próprios dirigentes."

Já Ayres Britto, presidente do STF, considerou o mensalão como "um projeto de poder quadrienalmente quadruplicado. Projeto de poder de continuísmo seco, raso. Golpe, portanto".

Os dois estão de volta, mas continuam com sérios problemas na justiça. O Código Penal os persegue. De lulistas viraram bolsonaristas, sem nenhum pudor. O "boy" de Mogi, muito mais esperto que Jefferson, sempre evitou a exposição pública. Preferiu os conciliábulos de Brasília, onde Marianne é entregue à sanha dos corruptos.

O ex-presidente não foi enganado por nenhum dos dois celerados. Ao estabelecer uma aliança política, o fez conscientemente. Optou por comprar monetariamente o apoio. Poderia buscar outros apoiadores, mas, neste caso, teria de rever sua prática governamental.

Lula já está em campo à procura dos Valdemares e Jeffersons de 2022. Não faltam candidatos. O preço subiu, mas nada que não possa ser comprado com dinheiro público.