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Marco Antonio Villa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A vitória de Vladimir Putin e a derrota dos Estados Unidos

25.fev.2022 - Rua vazia no centro de Kiev, após Putin fechar o cerco militar sobre a capital ucraniana - Valentyn Ogirenko/Reuters
25.fev.2022 - Rua vazia no centro de Kiev, após Putin fechar o cerco militar sobre a capital ucraniana Imagem: Valentyn Ogirenko/Reuters

Colunista do UOL

25/02/2022 13h37

A invasão da Ucrânia é uma ruptura na ordem internacional edificada após a queda do muro de Berlim. A desorganização do mundo socialista na Europa Oriental e a desagregação da União Soviética no decorrer dos anos 1990 deixaram o campo aberto aos Estados Unidos, isto quando a China ainda estava voltada fundamentalmente às transformações econômicas oriundas da política das quatro modernizações.

O enfraquecimento da Rússia —que dividiu o mundo com os Estados Unidos durante meio século— foi tão intenso que parecia inexplicável que uma superpotência militar se transformasse em um país dependente economicamente do Ocidente e sem voz nas grandes questões internacionais —ou, ao menos, não com a intensidade dos anos da Guerra Fria.

Os últimos acontecimentos demonstram que daqui para frente a Rússia voltou ao primeiro plano da cena política mundial, em especial na Europa. E que não admitirá ser tratada como uma potência de segunda classe. A eficiência bélica transformou uma guerra em um passeio militar pelo território da Ucrânia.

Mapa Ucrania - Arte/ UOL - Arte/ UOL
Imagem: Arte/ UOL

Vale destacar que não significa o retorno ao cenário da Guerra Fria. Agora a conjuntura internacional é muito mais complexa. Deve ser lembrado que a China divide o protagonismo internacional com os Estados Unidos e a Rússia, e a Europa centro-ocidental perdeu ainda mais relevância, sem ter nenhuma liderança que possa agir de igual para igual com os três grandes.

A decadência dos Estados Unidos deve se intensificar nos próximos anos. As presidências Trump e Biden agravaram ainda mais o isolamento americano. A maior potência militar do mundo age como principiante na cena internacional. A tendência é a perda da relevância político-diplomática e a necessidade de ameaçar reagir com ações militares —especialmente para o público interno, mais ainda próximo ao período eleitoral— tensionando crescentemente a conjuntura internacional.

Uma possível aliança China-Rússia —efetiva em termos geopolíticos— coloca o Ocidente contra as cordas. A alteração do equilíbrio internacional ocorrerá sem que haja o ônus de um grande conflito militar. Poderá ser a confirmação nos campos militar e geopolítico das profundas modificações econômicas que já estamos assistindo desde o início deste século com a transferência do eixo econômico mundial para a região Ásia-Pacífico —isto quando permaneceu cinco séculos no Atlântico.

É verdade que ainda é cedo para termos uma visão de conjunto das consequências do conflito russo-ucraniano. Mas uma coisa é certa: se a queda do muro de Berlim transformou o 9 de novembro de 1989 em um marco histórico, a invasão da Ucrânia abre uma nova era nas relações internacionais.

E o Brasil, como vai se posicionar? Jair Bolsonaro não tem a mínima ideia do que está acontecendo na Europa. Achou que sua visita à Rússia foi um sucesso, isto quando foi usado por Vladimir Putin. Fez papel de palhaço. O universo mental de Bolsonaro nunca conseguiu transcender o submundo da criminalidade no Rio de Janeiro. Supôs que as contradições Rússia-Ucrânia fossem semelhantes às do Escritório do Crime —chefiado por tantos anos pelo capitão Adriano Nóbrega, seu amigo e sócio (?)— com o Comando Vermelho.