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Marco Antonio Villa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro desrespeita decisão de ministro do STF

O vereador Carlos Bolsonaro com seu pai, o presidente Jair Bolsonaro - Geraldo Magela | Agência Senado
O vereador Carlos Bolsonaro com seu pai, o presidente Jair Bolsonaro Imagem: Geraldo Magela | Agência Senado

Colunista do UOL

28/01/2022 16h24

A recusa de Jair Bolsonaro de comparecer ao depoimento de hoje na Polícia Federal é apenas o primeiro de inúmeros conflitos do presidente da República com o Poder Judiciário. E a cada pesquisa eleitoral com resultados desfavoráveis, a resposta de Bolsonaro será o confronto com os poderes constituídos.

A tendência é de Bolsonaro falar cada vez mais —e de forma desrespeitosa às instituições— para obter apoio automático de cada vez menos eleitores. Desta forma, o seu discurso será dirigido ao bolsonarismo-raíz, os extremistas com forte simpatias nazifascistas.

Este primeiro confronto é apenas um ensaio. Bolsonaro vai aguardar as reações. Diz que pode recorrer ao plenário do STF. Sabe que, dos onze votos, conta com dois garantidos. Mas deve perder, mesmo que por uma pequena margem.

O temor de Bolsonaro não é com um simples depoimento. Isso ele resolve sem grandes problemas. A questão é a abertura de um flanco que ele considera perigoso especialmente para a sua família e, mais especialmente ainda, para o seu filho Carlos, o chefe do gabinete do ódio.

É de conhecimento geral que Carlos é o filho preferido de Bolsonaro. É aquele que dirigiu a campanha de 2018 e deve, na prática, fazer o mesmo neste ano. Foi ele que enfrentou —e venceu— nas urnas a mãe, isto em 1996, quando ainda era menor de idade, sempre agindo a mando do pai.

Carlos tem uma personalidade complexa. É destemperado e não suporta pressão. Caso as autoridades cheguem até ele - e não faltam motivos— a tendência é que o filho predileto perca as estribeiras. E neste caso, o pai vai entrar em campo para salvar o filho. Salvar do quê? Da prisão.

O vereador está numa sinuca de bico. Não tem foro privilegiado. Poderia obtê-lo sendo candidato a deputado federal, mas a legislação proíbe. A saída seria se o pai —Jair Bolsonaro— renunciasse à Presidência da República. Neste caso não haveria nenhum obstáculo legal. E, ainda, Bolsonaro poderia até se candidatar, por exemplo, ao Senado pelo Rio de Janeiro, garantindo foro privilegiado para si.

As hipóteses apresentadas não são malucas, muito pelo contrário. Bolsonaro sabe que Carlos corre perigo de prisão. Cometeu inúmeros crimes chefiando a quadrilha do gabinete do ódio. O embate com o ministro Alexandre de Moraes é apenas um teste, um ensaio, nada mais que isso. Mas prenuncia que poderemos ter surpresas, inclusive no campo eleitoral.