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Marco Antonio Villa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Villa: Os "analistas" e a guerra contra a Ucrânia

Vladmir Putin - Reuters TV-27.fev.22/Reuters
Vladmir Putin Imagem: Reuters TV-27.fev.22/Reuters

Colunista do UOL

04/03/2022 13h41

O clima de Fla-Flu que empobrece o debate político no Brasil —é o pior momento na história da República no campo ideológico— atingiu a compreensão da guerra contra a Ucrânia, suas causas e eventuais consequências.

Analistas surgiram do nada, alguns nem tomando conhecimento das contradições históricas da Ucrânia (imaginavam que o país se resumia ao Shakhtar Donetsk), mas não perdendo a oportunidade para dar a sua opinião —afinal, estamos no tempo que todos tem de ter opinião sobre qualquer coisa.

É condição indispensável para tratar da guerra contra a Ucrânia conhecer o processo histórico da Rússia, do tzarismo, da Revolução Russa, do surgimento da União Soviética, do stalinismo, da Segunda Guerra Mundial e suas consequências na Europa, o fim da Guerra Fria, o desaparecimento do "campo socialista" na Europa Oriental, a desagregação da União Soviética em mais de uma dúzia de países e a transição —aí sim, na base da privataria— do socialismo para o capitalismo mafioso em um ritmo inesperado e que asfixiou a sociedade civil russa ainda mais do que no período da glasnost e da perestroika.

Mas no Brasil tudo é mais fácil. Basta recordar os especialistas após a invasão do Afeganistão. Copiavam o noticiário da imprensa internacional e apresentavam comida requentada como se fosse um prato novo, recém-preparado. Isso quando nós nunca tivemos especialistas que tratassem daquela região —como não temos até hoje.

O passo adiante é emitir juízo sobre questões complexas sem ter conhecimento para tal. Vale tudo. Fazer "cara" de inteligente é essencial. E cabe também um ar blasé, como se uma análise mais consistente, acadêmica, não passasse de um mero mecanismo de escamotear os interesses ocultos na guerra - a tradição janista continua viva, infelizmente.

Enquanto isso, agressores são considerados vítimas —entenda-se os russos. Vladimir Putin, um autocrata, típico da história russa —é a "longa duração"— age como se as leis internacionais fossem meramente decorativas. As questões econômicas são tratadas de forma rasteira, assim como a geopolítica. Nesta hora sinto uma enorme saudade de Sérgio Porto. Se cá estivesse, escreveria uma nova versão do seu clássico samba. Agora intitulado: Samba do eslavo doido.