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Marco Antonio Villa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Villa: Bolsonaro e a doença como espetáculo

O presidente Bolsonaro ao lado da equipe médica no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo - Reprodução/Facebook
O presidente Bolsonaro ao lado da equipe médica no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

05/01/2022 12h30

Jair Bolsonaro recebeu alta. Puxa, que rapidez. Foi internado às pressas e exigiu a vinda do seu médico particular que estava nas Bahamas. Só ele poderia examiná-lo. Insinuava que a situação era muito grave e que necessitaria de uma intervenção cirúrgica imediata. Foi solicitado até que o Brasil orasse pela sua recuperação —os 620 mil mortos na pandemia não receberam este pedido.

Seu filho —o senador da mansão de chocolate— vociferou contra os críticos de Bolsonaro chamando-os de hipócritas.

O presidente articulou as suas redes para que desenterrassem o episódio de Juiz de Fora. E aproveitou para criminosamente imputar ao PSOL a responsabilidade pela ação de Adélio Bispo. É, para ele, o início da campanha eleitoral. Como não tem nenhuma "vitrine" para apresentar de realizações administrativas, vai, de forma caricata, repetir 2018 e representar o papel de mártir, daquele que pode até dar a sua vida pelo Brasil. Tudo, claro, em nome de Jesus e com Deus no comando.

Não é comum —eu nunca vi— um paciente no hospital internado vestido uma camisa de um time de futebol. E, pior, ao lado da equipe médica. Creio que os médicos estavam constrangidos. Afinal o juramento de Hipócrates não inclui a participação numa ação de marketing eleitoral. Confesso que lamentei a utilização da camisa de um time tão tradicional, o Juventus da Mooca.

Não satisfeito com a fotografia, Bolsonaro fez questão de dar uma entrevista coletiva acompanhado dos médicos e com a camisa do Juventus, claro. A patética cena serviu como um verdadeiro comício - e em um hospital! Atacou seus adversários da forma costumeira com uma linguagem típica de um marginal.

Agora, parece, que não haverá nenhuma justificativa plausível para o retorno ao trabalho. Afinal, o Palácio do Planalto está abandonado há mais de 20 dias. Será que Bolsonaro vai mesmo voltar ao batente? Claro que voltar ao batente não passa de uma expressão popular pois ele é o presidente que menos deu expediente na história. É o presidente mandrião.