Topo

Mauricio Stycer

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

"Rezar e Obedecer" mistura fanatismo religioso e casos de polícia

Cena da série documental "Rezar e Obedecer", lançada pela Netflix - Divulgação/Netflix
Cena da série documental "Rezar e Obedecer", lançada pela Netflix Imagem: Divulgação/Netflix

Colunista do UOL

16/06/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Esta é parte da versão online da edição desta quarta (15) da newsletter do Mauricio Stycer. Na newsletter completa, apenas para assinantes, o colunista ainda faz sugestões de leitura da semana. Para receber o boletim e ter acesso ao conteúdo completo, clique aqui.

Classificada pela Netflix como uma série policial, "Rezar e Obedecer", na realidade, é um mergulho num universo de fanatismo religioso assustador. Em quatro episódios, com direção de Rachel Dretzin, documenta o funcionamento da Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, uma denominação mórmon, cujos membros praticam a poligamia.

Conhecida pela sigla FLDS, a sede da igreja no Texas foi alvo de uma investigação policial em 2008, que mostrou sinais de abuso sexual, físico e psicológico em mulheres, algumas menores de idade. Segundo a série, elas são forçadas a se casar com homens mais velhos.

O tema principal de "Rezar e Obedecer" é a ascensão de Warren Jeffs ao comando da FLDS. Ele é filho de Rulon Jeffs, que dirigiu a igreja até morrer, em 2002. Conhecido como "Tio Rulon" por seus seguidores, deixou cerca de 20 esposas e 60 filhos. Após a morte do pai, Warren se casou com quase todas as esposas dele.

"Quanto mais esposas e mais filhos você tiver, mais alto no céu você vai chegar", diz um membro da igreja na série. Mulheres que abandonaram a FLDS e ajudaram a polícia a investigar os casos de abuso dão depoimentos tristíssimos.

"A parte da frente do meu vestido de noiva ficou encharcada (de lágrimas)", diz Elissa Wall, lembrando o dia em que, aos 14 anos, foi forçada a se casar com um primo. "Eu faria qualquer coisa para fazê-lo adormecer", diz a irmã de Elissa, Rebecca, que se casou com Rulon, de 83 anos, quando tinha 19. "Então eu poderia passar outra noite sem que ele me tocasse".

"Rezar e Obedecer" não é um programa de fácil digestão. De fato, está longe de ser um entretenimento, no sentido mais estrito da palavra. Mas faz pensar. A série provoca incômodo ao mostrar que a maior parte das mulheres da igreja fecha os olhos para as situações de abuso e continua seguindo a liderança de Warren Jeffs mesmo depois que ele é condenado e preso.

Veja abaixo um trailer (com legendas em espanhol):

Pra lembrar

A Netflix pode não estar no seu melhor momento, após registrar perda de assinantes no primeiro trimestre do ano. Mas ainda tem dados muito positivos para exibir, como revelou esta semana a consultoria Ampere. Em março de 2022, o número de títulos "originais" e/ou "exclusivos" no catálogo americano da empresa representou, pela primeira vez na sua história, mais de 50% de todo o conteúdo disponível. De acordo com os dados, são mais de 3.700 filmes e temporadas de TV com esta característica. Os originais têm sido o foco principal da estratégia de conteúdo da Netflix.

stranger - Divulgação/ Netflix - Divulgação/ Netflix
Steve, Eddie, Nancy e Robin em cena da quarta temporada de "Stranger Things"
Imagem: Divulgação/ Netflix

O sucesso da nova temporada de "Strangers Things" mostra mais uma vez que o caminho para ampliar a base de assinantes passa diretamente pela qualidade do conteúdo original. Dados da Ampere mostram que a empresa vem gastando mais do que todas as outras plataformas de streaming em conteúdo original, anualmente, desde 2013. Estes gastos atingiram o pico de US$ 6,2 bilhões em 2021, mais que o dobro do segundo maior gastador - Disney+ com US$ 2,8 bilhões.

Pra esquecer

dom - BBC - BBC
Bruno Arújo (à esq.) e Dom Phillips estão desaparecidos desde o dia 05/06
Imagem: BBC

O desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips na Amazônia tem exposto as enormes dificuldades de comunicação, e a persistente falta de transparência, do governo Bolsonaro. Pela repercussão do caso, e do impacto no exterior, seria de se esperar um esquema de divulgação de notícias mais organizado e profissional. Não é o que tem ocorrido. Toda a especulação ocorrida na segunda-feira (13) sobre a suposta descoberta dos corpos é exemplar do desastre da comunicação.

Familiares do jornalista britânico afirmam ter recebido a notícia de um diplomata brasileiro em Londres. A informação se espalhou com velocidade, naturalmente. Horas depois, a Polícia Federal negou. O Itamaraty divulgou uma nota que não esclarece o que aconteceu. Só no dia seguinte, o Itamaraty pediu desculpas à família. E o presidente Bolsonaro aumentou ainda mais a angústia dos parentes dizendo que "os indícios levam a crer que fizeram alguma maldade com eles".

A frase

possuelo - Reprodução/TV Cultura - Reprodução/TV Cultura
O Roda Viva recebeu nesta segunda-feira (13) o ex-presidente da Funai, indigenista e ativista social Sydney Possuelo.
Imagem: Reprodução/TV Cultura

"Esses homens se sentem protegidos pela presidência da República"

Sydney Possuelo sobre invasores de terras indígenas, no "Roda Viva" desta semana

LEIA MAIS NA NEWSLETTER