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Observatório das Eleições

Auxílio Emergencial e Popularidade do Bolsonaro

Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores em Mossoró (RN) em agosto de 2020 - Alan Santos/Divulgação/Edição Observatório das Eleições
Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores em Mossoró (RN) em agosto de 2020 Imagem: Alan Santos/Divulgação/Edição Observatório das Eleições

18/11/2020 04h00

Fabiano Santos e Tiago Ventura*

Em inícios de abril, o Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação divulgou pesquisa na qual a avaliação bom e ótimo de Bolsonaro, em franco declínio, girava em torno de 25%. Ao longo dos meses seguintes, contudo, o presidente inicia uma lenta e consistente recuperação de sua imagem, recuperação que acaba por alçá-lo, segundo o último levantamento do projeto "A Cara da Democracia: Eleições 2020", de outubro, a algo em torno de 40% de avaliação positiva.

Analistas e cronistas da política brasileira, corretamente a princípio, relacionam tal subida aos efeitos que a política de auxílio emergencial, aprovada por iniciativa do Congresso e executada pelo governo, teria produzido na renda, psicologia e opinião de eleitores a partir de meados de maio.

Se a política de auxílio é sustentável e o que ocorrerá com a popularidade do Bolsonaro após seu eventual esvaziamento não podemos prever, só especular. Entretanto, é possível e desejável examinar os dados envolvendo o padrão de resposta a perguntas sobre popularidade e sua relação com o recebimento ou não do auxílio, assim como sua incidência por estrato de renda. Fazemos isso a seguir.

Nossa sugestão é que a variável "renda", ausente dos comentários feitos até o momento sobre auxílio e popularidade, afeta tanto as chances de se receber o auxílio quanto de apoiar o presidente, como mostra a figura abaixo.

1 - Pesquisa "A Cara da Democracia: Eleições 2020? - Pesquisa "A Cara da Democracia: Eleições 2020?
Avaliação do presidente Jair Bolsonaro comparada com acesso ao auxílio emergencial e renda
Imagem: Pesquisa "A Cara da Democracia: Eleições 2020?

Os resultados levam a duas conclusões. Em primeiro lugar, não há, no estrato de renda inferior a dois salários mínimos diferença perceptível no apoio presidencial entre os que recebem ou não o auxílio. Dentre os respondentes que recebem até dois salários mínimos e recebem o auxílio, 33% consideram a administração de Jair Bolsonaro ótima ou boa, sendo que dentre os respondentes na mesma faixa de renda, mas que não recebem o auxílio, esta proporção é de 34%.

Mantendo o corte de renda e considerando o mesmo estrato (até dois salários), uma diferença também não significativa, e de magnitude pequena aparece entre aqueles que avaliam o governo como regular, ou péssimo. Portanto, receber ou não o auxílio emergencial, mantendo constante a faixa de renda, não afeta de forma robusta o apoio ao presidente Jair Bolsonaro.

As diferenças aparecem, todavia, onde menos se espera, vale dizer, nas faixas de renda média e alta. Entre os que recebem entre dois e dez salários mínimos e recebem o auxílio, há um crescimento na proporção de respondentes com avaliação negativa do governo. Por outro lado, há pouca variação entre os que não recebem o auxílio, oscilando entre 37%, 28%, e 35% dos respondentes se manifestando com uma avaliação do Bolsonaro ótima-boa, regular, ruim-péssima, respectivamente.

Tendência contrária, e isto é o mais interessante, aparece entre setores de renda alta. Neste caso, setores mais ricos que recebem o auxílio mostram forte apoio ao governo (53% dos respondentes neste grupo), e com uma diferença importante para os que não recebem (32%). Aqui é preciso alguma cautela com os dados. Em primeiro lugar, estamos diante de uma análise simples de proporção, com foco apenas em associação entre renda, recebimento do auxílio e apoio presidencial. Em segundo, trata-se somente de um retrato estático, uma fotografia do atual momento, sem parâmetro longitudinal comparativo, uma vez que a política de auxílio emergencial é muito recente

Feito o proviso, apresentamos hipótese até então não levantada e promissora para investigação futura. Mais do que efeito egotrópico no recebimento do auxílio emergencial, o que parecemos assistir é um processo de racionalização motivada por parte dos eleitores, sobretudo mais ricos, em relação ao auxílio. Explicamos.

Eleitores mais ricos, principais apoiadores de Jair Bolsonaro, parecem ser os únicos para quem o auxílio importa, uma vez diante de perguntas sobre avaliação do governo. Dado que o efeito econômico do auxílio nestes setores tende a ser diminuto, nossa hipótese é de que estes eleitores, já predispostos a apoiar o presidente, reforçam a associação entre receber o auxílio, ou conhecer pessoas que o recebem, e o apoio ao governo. O contrário acontece entre mais ricos e que avaliam o governo como ruim ou péssimo. Esperemos mais pesquisas, então.

A pesquisa "A Cara da Democracia: Eleições 2020", do INCT-Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação e do Cesop/Unicamp foi realizada entre os dias 24 de outubro e 04 de novembro de 2020. A pesquisa entrevistou duas mil pessoas por telefone, tem grau de confiança de 95% e margem de erro de 2,2%.

*Fabiano Santos (IESP-UERJ, Instituto da Democracia)
Tiago Ventura (University of Maryland, College Park)

Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2020, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: www.observatoriodaseleicoes.com.br