Weintraub faz história, desmoraliza Enem e cola o feito à gestão Bolsonaro
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Abraham Weintraub é dessas personalidades verdadeiramente marcantes. Se me permitem, diria ser ele mais do que isso: é um homem fulminante, fatal, definitivo, do tipo que chega e vai mesmo fazendo história.
Ao longo dos seus 21 anos, o Enem enfrentou vários problemas. Nem poderia ser diferente. Há muito tempo, é a maior prova do gênero no mundo. A partir de 2009, a complexidade aumentou porque o exame destinado a avaliar a qualidade do ensino médio passou também a substituir o vestibular nas universidades federais — e algumas instituições privadas passaram também a adotar o seu crivo. Também nesse caso se pode dizer: o é maior vestibular da Terra.
Já houve vazamento de questões, grupo de estudantes que tiveram de fazer a prova posteriormente em razão de erro de procedimento, problemas de logística, debates acalorados sobre questões ideológicas etc. Mas nunca se tinha colocado em questão a fidedignidade dos resultados aferidos.
E olhem que o sistema de avaliação — a Teoria da Resposta ao Item — não é exatamente de fácil compreensão. Apesar das dificuldades, o exame conta — ou contava, até esta edição — com a confiança de estudantes e professores. Mas Weintraub chegou para fazer história.
A primeira edição do exame sob o seu comando conseguiu destruir o que se se construiu ao longo de 21 anos: a confiança no resultado, de sorte que funcionários do próprio MEC dizem — sob anonimato, claro! — ser impossível assegurar que o resultado colhido é 100% confiável.
Bolsonaro tem uma concepção tosca, rasa, primária mesmo, do que sejam política, ideologia, visão de mundo. Seus, digamos, "professores" não ajudam muito, com seu proselitismo vulgar. Mas ele poderia, a despeito da ignorância essencial, ser ao menos sincero.
Há um padrão mínimo de competência a esperar de auxiliares, não é mesmo? Houvesse alguma sinceridade, vamos dizer, primária no presidente, botaria Weintraub para correr. Ele conseguiu colar ao governo o Enem mais malsucedido da história.
Eis aí: o governo que viria para acabar com o "viés ideológico" mantém no cargo um incompetente ridículo em razão do... viés ideológico. Que os estudantes eleitores se lembrem disso.