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Marielle: Argumento ideológico-racial de promotor é temerário, diz Reinaldo

O colunista Reinaldo Azevedo disse no Olha Aqui! desta quinta (31) que é temerária a estratégia adotada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro de dissociar Marielle Franco da imagem de uma figura da esquerda para convencer o júri a condenar os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz à pena máxima.

É uma argumentação temerária de várias maneiras, porque ele pode ter implicações contrárias àquilo que pretende. O [promotor do 2º Tribunal do Júri] Fabio Vieira dos Santos disse [sobre o júri]: 'homens de pele clara, de meia-idade, que não há mulheres'. Mulheres foram dispensadas. Primeiro, essa composição do júri é algo a se pensar dessa maneira, porque essa composição é algo a se pensar.

Agora, ele disse, mas eu até gosto que seja assim, porque assim não há — não estou sendo literal, é o conteúdo da argumentação dele — porque assim ninguém poderá pretextar que uma eventual condenação com os agravantes e tudo mais, ninguém poderá dizer que isso foi decidido por um viés esquerdista do júri e também dizer que a Marielle, aspas: 'esse processo mostrou a beleza que era a Marielle, não tem essa de esquerda e de direita'. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

Reinaldo destacou que as alegações da Promotoria transformam a posição política de Marielle em um agravante.

A argumentação do promotor, o Fabio Vieira dos Santos, em que pese o papel do promotor seja buscar a pena máxima, mais severa, para quem cometeu crime — no caso, réu confesso —, e da defesa seja buscar a pena menos gravosa, a gente precisa tomar cuidado com a argumentação (...). Ela embute uma coisa perigosa. Se eu pego o raciocínio de lá pra cá, qual é?

Eu descaracterizo a Marielle como militante de esquerda, eu a transformo numa humanista, porque assim fica mais fácil a pena máxima para o assassino, réu confesso, que calculou tudo, que sabia o que estava fazendo, que fez por dinheiro, etc e tal. Agora, caso ela fosse uma esquerdista, talvez a pena não precisasse ser tão elevada (...), estou dizendo que, de algum modo, ser esquerdista pode minimizar a fealdade de um ato como esse. É uma argumentação muito perigoso. Como se ser esquerdista fosse um agravante para a vítima.
Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

Segundo Reinaldo, essa é a interpretação que fica, inclusive, para o júri.

Está querendo um determinado resultado, mas precisa haver um pouco de modos nesse negócio. Está dizendo assim para o júri: 'Olha aqui, vocês não darem a pena máxima para o Lessa (...), se ela fosse então, sim, uma esquerdista perigosa, vá lá vocês não darem a pena máxima. Mas, ela não era. Então, é pena máxima'.

De maneira que fica parecendo que todo mundo tem uma certa cota ou direito a uma cota de ofensa a pessoas que sejam esquerdistas. E nesse caso da ofensa é uma ofensa muito grave, porque é a morte. É um raciocínio que precisa tomar um cuidado imenso com isso. É perigoso. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

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