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Reinaldo Azevedo

Patrícia 2: Além do ódio à imprensa e às mulheres, por que tamanha fúria?

Patrícia Campos Mello: além do ódio à imrprensa e às mulheres, por quye tanta fúria contra a jornalista?  - reprodução
Patrícia Campos Mello: além do ódio à imrprensa e às mulheres, por quye tanta fúria contra a jornalista? Imagem: reprodução

Colunista do UOL

12/02/2020 17h17

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Reitere-se: é preciso chegar àqueles que estão instrumentalizando a ação criminosa do sr. Hans River do Rio Nascimento contra a CPMI das fake news e contra a jornalista Patrícia Campos Mello, responsabilizando a todos na esfera penal. No terreno da política, agora de olho nas redes bolsonaristas, cumpre indagar: por que tanto ódio contra Patrícia? Antes que eu responda, algumas considerações.

CONSIDERAÇÕES
Note-se: o bolsonarismo e o próprio Bolsonaro odeiam a imprensa profissional sem exceção ou reserva. O único jornalismo, OU ALGO QUE FINGE SÊ-LO, que interessa é o que diz amém. E ponto! E notem que não adianta ter sido útil ou servil um dia e depois aspirar a certa independência. Não existe, para essa turma, nem mesmo serviço prestado. É preciso concordar a cada dia e sempre mais.

Não por acaso, o primeiro manifesto do tal "Aliança para o Futuro", o partido que Bolsonaro quer fundar, trazia um pressuposto para a filiação: não dissentir do chefe. Alguém tinha alguma razão para crer, durante a campanha eleitoral e o primeiro ano de governo, que fosse diferente? Sim, há jornalistas bolsonaristas, inclusive alguns arrependidos. Com a devida vênia: quem não é (ou não era) venal é (ou era) desinformado sobre a real natureza do grupo que chegou ao poder. Ou precisa de mais caráter ou precisa de mais estudo. Fecham-se as considerações e vamos à resposta.

POR QUE TANTO ÓDIO CONTRA PATRÍCIA?
Porque ela tocou, entendo, o cancro do esquema que colaborou para levar Bolsonaro à Presidência da República. Obviamente, o trabalho não havia começado em 2018. A coisa vinha de longe.

Ainda que outros partidos — sim, também o PT — tenham recorrido a impulsionamentos de WhatsApp, é evidente que ninguém construiu uma máquina tão eficaz e azeitada como o bolsonarismo. O trabalho de Patrícia já foi hercúleo. Mas ouso intuir que ele tocou, como reza o velho clichê, apenas a ponta o iceberg. Acho que não perderá tempo quem decidir escarafunchar a questão a fundo, tentando chegar à pré-história do formidável esquema que contamina as redes sociais. Quem sabe seja preciso atravessar oceanos e mares para chegar ao coração do esquema.

A questão é séria, sim. E pode ter uma gravidade maior do que aparenta porque, caso se chegue à evidência de que o esquema era muito maior do que se tinha conhecimento, um outro possível crime se alevanta: o dinheiro que sustentou esse aparato foi declarado à Justiça Eleitoral? Se não foi, a punição prevista é a cassação não de Bolsonaro, mas da chapa que o elegeu.

O achado de Patrícia será sempre uma espada a pender sobre a cabeça do bolsonarismo. Daí que não se meçam esforços, mesmo os mais disparatados, para desmoralizar a jornalista. A máquina de difamação, com as digitais de um dos filhos do presidente, também tem o intuito de ameaçar e intimidar os que decidirem seguir numa investigação que, entendo, pode estar apenas no começo.

E de uma coisa essa turma pode ficar certa: a investigação vai continuar. Mesmo tendo de cruzar oceanos e mares.

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