Topo

Reinaldo Azevedo

Tragado pela crise, Bolsonaro apela à provocação para bombar seus celerados

O ator Peter Ustinov no papel de Nero no filme "Quo Vadis". Hoje já se sabe que é lorota a conversa de que ele incendiou Roma. Mas o nosso Nero quer entrar para a história por seu... poder de fogo! - Reprodução
O ator Peter Ustinov no papel de Nero no filme "Quo Vadis". Hoje já se sabe que é lorota a conversa de que ele incendiou Roma. Mas o nosso Nero quer entrar para a história por seu... poder de fogo! Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

10/03/2020 07h13

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Parece inescapável que Rosa Weber, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, emita uma nota sobre a declaração de Bolsonaro. Entendo que também deve fazê-lo o presidente do STF, Dias Toffoli. Chantageados em cena aberta, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre talvez se manifestem.

Mas parece claro que há uma certa disposição de não aplaudir, ou vaiar, para maluco dançar. Tanto as empresas que monitoram as redes sociais como também a turma de Bolsonaro chegaram à mesma conclusão: ainda que haja bastante gente na rua no dia 15, o protesto em favor do fechamento do Congresso e do Supremo parece ter menos apelo do que esperavam os celerados.

Bolsonaro está esticando a corda para ver se provoca uma reação dura dos demais Poderes, inflamando, assim, a cachorrada.

Pois é... Até eleitor bolsonarista já percebeu que o Congresso e o Supremo não respondem pelo dólar a quase R$ 5, pelo crescimento pífio, pelo desemprego gigantesco, pelas filas do INSS, pelo desastre humanitário do Bolsa Família, pela, em suma, ruindade do governo.

Haverá, sim, fanáticos nas ruas, mas com qual pauta? A dos extremistas. E é justamente esse extremismo que condena o governo Bolsonaro à mediocridade.

Sim, é preciso dar uma resposta ao presidente, aplicar-lhe uma lição. E a dureza de ambas tem de ser inversamente proporcional à quantidade de gente nas ruas. Em havendo golpistas em número suficiente que possa cheirar a uma ameaça, aí será preciso que os outros dois Poderes encontrem o caminho para antecipar o "Basta!" De acordo com a lei. Se a coisa se resumir à gritaria bisonha, aí basta monitorar o celerado para que não faça o que, muito provavelmente, Nero não fez: botar fogo em Roma.