Fato histórico: Bolsonaro declarado impróprio até para maiores no Twitter
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Alguns dos mais importantes veículos da imprensa internacional já haviam feito picadinho da reputação do presidente Jair Bolsonaro na semana passada, destacando ser ele o único chefe de Estado no mundo a se opor à quarentena como forma de impedir uma explosão repentina de casos de Covid-19. Isso já evidenciava o lugar singular que o presidente brasileiro escolheu para si mesmo.
Agora vem um vexame em escala planetária mesmo! O Twitter, imaginem vocês, que tem adotado uma progressiva política de responsabilidade social, decidiu excluir duas postagens da conta oficial do presidente.
Em ambas, Bolsonaro exibia seu passeio, neste domingo, por áreas do Distrito Federal estimulando as pessoas a não respeitar a quarentena, contrariando orientação explícita da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde no Brasil. Na entrevista concedida no sábado, o ministro Luiz Henrique Mandetta foi explícito ao recomendar que as pessoas seguissem as orientações para não sair de casa. Ao chegar ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro ainda afirmou (veja post) que estudava baixar um decreto autorizando o exercício do que chamou de "toda e qualquer profissão existente".
Em vídeos, Bolsonaro também comenta, em tom de aprovação e estímulo, o uso da cloroquina no combate ao vírus, o que ainda está em estudo no mundo — e também no Brasil. Na entrevista de sábado, Mandetta foi explícito em recomendar que as pessoas evitem automedicação porque o consumo sem controle do remédio pode causar graves danos ao fígado, por exemplo.
Salvo engano, é a segunda vez na história que uma rede social de escala global, como é o Twitter, exclui postagens de um chefe de Estado por violar de regras de segurança à coletividade. Antecedeu-o na distinção, no próprio Twitter, Nicolás Maduro, ditador da Venezuela. Bela companhia!
Bem, agora é a hora de os bolsonaristas acusarem o Twitter de estar a serviço da China, do George Soros, do comunismo internacional, do Foro de São Paulo e do PT — sem esquecer, claro!, do Drauzio Varella, a mais recente obsessão dos sociopatas.
Na edição da semana passada, a revista inglesa The Economist fez um trocadilho: ele virou o "BolsoNero". A publicação destaca que a doença avança no Brasil enquanto ele "brinca". A alemã Der Spiegel o classificou de "o último negacionista". O Washington Post embarcou na ironia. Escreveu: "Ele falou que o autoisolamento era 'confinamento em massa'. Chamou o novo coronavírus de 'gripezinha'. Perguntou 'por que fechar as escolas' se só pessoas com mais de 60 estão sob risco. Esse é Jair Bolsonaro, líder do maior país da América Latina."
Como se vê, era pouco para o nosso gigante. Faltava uma interdição de caráter planetário. Já há. O presidente brasileiro é impróprio até para os maiores do Twitter.
O maior país da América Latina tem na Presidência da República quem não reúne condições nem para escrever numa rede social.
Correção: originalmente, a expressão autoisolamento estava escrita com uso do hífen, em desacordo com a reforma ortográfica vigente.