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Reinaldo Azevedo

O Exército é a 1ª estatal privatizada por Bolsonaro: vendida aos Bolsonaros

Eduardo Bolsonaro recebe Marcelo Costa, representante da SIG Sauer no Brasil (esq.), acompanhado de representante do PSL. O deputado testa pistola da marca em clube de tiro. E fuzil de assalto 7.62, liberado para civis - Reprodução
Eduardo Bolsonaro recebe Marcelo Costa, representante da SIG Sauer no Brasil (esq.), acompanhado de representante do PSL. O deputado testa pistola da marca em clube de tiro. E fuzil de assalto 7.62, liberado para civis Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

09/06/2020 06h02

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Aos poucos, o Exército Brasileiro vai se transformando num puxadinho dos interesses da família Bolsonaro. Antes que o presidente faça qualquer privatização de relevo, parece que uma das três Forças já está em franco processo de privatização.

Não se esqueçam: na reunião ministerial do dia 22 de abril, o capitão reformado Jair Bolsonaro afirmou, entre dois generais (Braga Netto e Hamilton Mourão), e com outro também a compor o lado principal do retângulo da mesa, que ele atua de forma deliberada para armar a população para que esta possa resistir, na base da bala, a decisões de governantes. O nome disso é guerra civil.

Essa é uma questão importante porque as organizações em defesa da vida e dos direitos humanos no Brasil têm agora a tarefa de fazer chegar a organismos internacionais que atuam na área a seguinte informação: o governo, por intermédio do Exército e de uma empresa americana, quer incrementar a produção e venda de armamentos para indivíduos.

Isso se dá num contexto muito particular: o chefe da nação assume que armar a população é uma questão política, não uma medida de autodefesa. Vale dizer: o eventual acordo se torna peça relevante num cenário que tem como horizonte a luta de brasileiros contra brasileiros. Leiam o que informa a Folha. Volto em seguida.
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Após intenso lobby do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o Exército está prestes a fechar uma parceria para a fabricação de pistolas da marca americana SIG Sauer no Brasil. O filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é entusiasta de armas, e é visto no mercado como uma espécie de garoto-propaganda da SIG. Sua insistência em promover a empresa gerou desconforto em setores do Exército, já incomodados pela revogação de portarias de controle de armas e munições por ordem do presidente. No seu canal no YouTube e em sua conta no Facebook, Eduardo aparece testando pistolas da marca em um clube de tiro em março deste ano.

Em 16 de abril do ano passado, postou no Twitter a foto de uma reunião com representantes da empresa, prometendo ajudá-los: "Falta a garantia política de que o lobby não atochará tantas burocracias para emperrar a instalação" de uma fábrica no país. Em janeiro, o deputado disse que havia sido procurado pela SIG e que acreditava no interesse de outras empresas no Brasil, como a Beretta --a legendária forja italiana dá nome à sua cachorra. Há duas semanas, visitou o general Alexandre Porto, que assumiu a Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército em substituição a Eugênio Pacelli, cujas portarias foram derrubadas.
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O Exército informa que as duas empresas só precisam agora do aval dos respectivos governos para firmar um acordo de produção conjunta no Brasil. Ainda não há detalhes sobre metas e investimento.
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COMENTO

Isso não é mais um governo, mas um grande lobby em favor da indústria armamentista.

Desde que assumiu a Presidência, esse é o setor em que presidente é mais buliçosamente legiferante — e sempre para relaxar posse e porte de arma, além de facilitar a compra de munição.

Na reunião ministerial do dia 22 de abril, Bolsonaro se refere a uma portaria que foi, de fato, baixada no dia seguinte, que elevou de 200 por POR ANO para 550 POR MÊS a quantidade de munição que pode ser comprada por civis: foi multiplicada 33 vezes.

Já a Portaria 62 extinguiu três outras — 46, 60 e 61 — e pôs fim ao rastreamento de armas e munições. Para tanto, Bolsonaro interveio pessoalmente no Comando de Logística do Exército e cavou a exoneração do general Eugênio Pacelli da Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados. Era ele o responsável pelas portarias extintas, que garantiam o rastreamento. Há uma ação do PSOL no Supremo contra a Portaria 62.

Na semana passada, em mais uma intervenção no setor, Bolsonaro permitiu que civis comprem os fuzis de assalto fuzis 5.56 e 7.62 fabricados pela Imbel, a empresa fabricante de armas do Exército, que faria, então, a parceria com SIG Sauer, em favor da qual Eduardo Bolsonaro faz lobby.

Quem sai ganhando com a generalização de posse e porte de armas, incluindo fuzis de assalto, sem rastreamento? Não é preciso ser muito bidu: as milícias e o narcotráfico. Isso nada tem a ver com autodefesa. E, claro!, há a aposta do presidente na guerra civil. Relembro sua fala do dia 22 de abril:

"O que esses filha de uma égua quer, ô Weintraub, é a nossa liberdade. Olha, eu tô, como é fácil impor uma ditadura no Brasil. Como é fácil. O povo tá dentro de casa. Por isso que eu quero, ministro da Justiça e ministro da Defesa, que o povo se arme! Que é a garantia que não vai ter um filho da puta aparecer pra impor uma ditadura aqui! Que é fácil impor uma ditadura! Facílimo! Um bosta de um prefeito faz um bosta de um decreto, algema, e deixa todo mundo dentro de casa. Se tivesse armado, ia pra rua. (...) Eu peço ao Fernando e ao Moro que, por favor, assine essa portaria hoje que eu quero dar um puta de um recado pra esses bosta! Por que que eu tô armando o povo? Porque eu não quero uma ditadura! E não dá pra segurar mais! Não é? Não dá pra segurar mais. (...) É escancarar a questão do armamento aqui. Eu quero todo mundo armado! Que povo armado jamais será escravizado".

ENCERRO
E pensar que um dos filhos de Lula é réu, com o pai, num inquérito por suposto lobby em favor do caças Gripen, da Suécia, comprados pela Aeronáutica.

É a mais alucinada de todas as acusações contra o petista. A compra dos caças só se deu em 2013. A decisão foi inteiramente da Aeronáutica, sem interferência do governo. COMO SABE A AERONÁUTICA.

Lula está sendo investigado porque recebeu uma carta do então sindicalista e presidente do Partido Social Democrata sueco, Stefan Löfven, defendendo o Gripen. Pedia que ela fosse endereçada ao governo. Löfven é o atual primeiro-ministro da Suécia.

Tal carta bastou para que o Ministério Público Federal fabricasse uma teoria mirabolante sobre a suposta influência do petista na escolha dos caças. A única evidência de que dispõem é essa.

Comparem com a atuação desabrida de Eduardo, que se comporta abertamente como lobista, com a devida, digamos, documentação na Internet.

Se o acordo sair, vamos ver o que vai fazer o Ministério Público Federal.

Eis aí! O Exército é a primeira estatal privatizada por Bolsonaro. Em favor da família Bolsonaro.