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Reinaldo Azevedo

2022: Moro-lavajatismo ensaia movimento nas redes, na Justiça e na imprensa

Uma das imagens para promover um tuitaço em favor do moro-lavajatismo. Eis a farsa, segundo a qual todos estariam de um lado só. Apenas Moro lutaria contra a corrupção - Reprodução/Twitter
Uma das imagens para promover um tuitaço em favor do moro-lavajatismo. Eis a farsa, segundo a qual todos estariam de um lado só. Apenas Moro lutaria contra a corrupção Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

27/07/2020 06h49

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O "moro-lavajatismo" se mostra mais assanhado do que lambari na sanga. Está na ofensiva. E em várias frentes. Se há inocentes, à direita e à esquerda, que apostam que Sergio Moro, ex-juiz e ex-ministro da Justiça, é carta fora do baralho, bem..., dizer a respeito o quê? Inocentes são. Não estão sabendo ler sinais. A propósito: é preciso parar de decretar mortes de véspera — de Moro ou de Jair Bolsonaro.

Convenham: por enquanto, inermes mesmo estão os esquerdistas, direitistas democráticos e centristas. A extrema direita vai bem: dividida, sim, entre Bolsonaro, que está com a maioria desse grupo ideológico, e Moro, que tem a minoria. Fato é que as duas correntes estão no debate, gerando mais notícias do que parece.

Neste sábado, os moristas tentaram emplacar no Twitter a hashtag "#BrasilQuerCorruptosPresos". Não logrou sucesso. Mas se nota que algo está em estruturação. Apelam a um fanatismo e a um amor incondicional pelo líder — Moro — muito semelhantes àqueles que vigem nas hostes bolsonaristas. O objetivo, não escondem, é levar o ex-juiz à Presidência. Cumpre lembrar que o "fenômeno Bolsonaro" nas redes sociais não nasceu de um dia para o outro. Teve uma longa maturação.

Uma das convocações para o tuitaço, marcado, então, para as 15h do sábado, trazia as respectivas imagens de Bolsonaro, Augusto Aras, Lula e Dias Toffoli, como se estivessem todos juntos. Isso vem se repetindo e ecoa o velho espírito lavajateiro: ninguém presta na política — a não ser... Moro.

Renan Santos, um dos coordenadores nacionais do MBL, reagiu negativamente à convocatória:
"Nas redes, surge agora um bovinismo pró-Moro. Pequeno, incipiente, mas servil e agressivo. No final do dia, somos todos aquilo que criticamos."

Um dos crentes da seita morista se zangou:
"O MBL não apoia a tag #BrasilQuerCorruptosPresos ,e esse imbecil ainda vem comparar pessoas de bem com o GADO bolsonarista, a vaidade já começou a derrubar muita gente, te toca @RenanSantosMBL, não é só vocês q podem ditar o q vai ser feito. O povo é livre...acorda"

A atuação nas redes, ainda incipiente, como notou Santos, não é uma ação isolada. Os espaços institucionais e a imprensa estão impregnados de "moro-lavatismo". E o que resta de militância de esquerda nas redes faz de graça o trabalho de propaganda para os adversários de extrema-direita de Bolsonaro.

LAVA JATO ELEITORAL
A imprensa brasileira noticiou à farta o, digamos, trabalho de uma certa "Lava Jato Eleitoral", que não existe. Promoveu mandados de busca e apreensão em endereços do deputado Paulinho da Força (SD-SP) e do senador José Serra (PSDB-SP). Nesse caso, houve até prisões temporárias, depois revogadas. O tucano Geraldo Alckmin, que governou São Paulo três vezes e segue pobre, foi denunciado por caixa dois, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Um dos truques da Lava Jato original sempre consistiu em apelar a tipos penais que aumentam a reclusão potencial e dificultam a prescrição sob o pretexto de ser severa no combate à corrupção. É o que se vê no caso de Alckmin. E ai de quem levantar a voz para dizer o óbvio: caixa dois não é sinônimo desses outros crimes. Corre o risco de ser tachado de tolerante com o malfeito... Também nos respectivos casos de Paulinho e Serra, há abusos evidentes.

Na imprensa, eu e alguns poucos — incluindo um bom editorial do Estadão (ver post) — reagimos ao "lavajatismo". Aí foi a vez de ressentidos de esquerda entrarem em cena para afirmar que isso só acontece porque, agora, "tucanos estão sendo punidos". Bem, recomendo que olhem tudo o que já escrevi sobre a condenação sem provas de Lula. Petistas e esquerdistas insistem na mentira de que a Lava Jato é uma tramoia só contra o PT e as esquerdas. Não! Ela buscou e busca destruir a política e qualquer legenda que não aceite pertencer ao Partido Único da Lava Jato, que agora tem candidato: o Moro do tuitaço.

LEVANTE CONTRA ARAS
Procuradores da Lava Jato, sob a liderança de Deltan Dallagnol, resolveram se insurgir contra Augusto Aras, procurador-geral da República, que teve de recorrer ao STF para que a força-tarefa cumprisse a obrigação de compartilhar com seu braço na PGR dados colhidos em investigações. Setores próximos ao lavajarismo espalham então que isso implicará compartilhar o conteúdo da investigação de 17.987 pessoas físicas e 20.137 pessoas jurídicas, além de 49 milhões de transações financeiras.

Esperem aí: quer dizer que a Lava Jato, com seu viés político evidente, e não o Ministério Público, deve ser a dona exclusiva da chave desse gigantesco banco de dados, que, em mãos erradas — ao arrepio de qualquer controle —, pode se constituir num arsenal formidável de chantagem, inclusive numa campanha eleitoral? É isso? A propósito: todos esses dados foram coletados com autorização judicial?

OFERTA ILEGAL
Poucos dias antes, ficamos sabendo de uma estupefaciente e ilegal oferta: a juíza Gabriela Hardt, da 13ª Vara Federal de Curitiba, estaria disposta a doar até R$ 508 milhões ao combate à Covid-19. E o fazia em nome da... Lava Jato! Poucos atentaram para o fato de que a oferta é ilegal poque o dinheiro não é propriedade daquele juízo. Mais: desde quando uma juíza pode ser porta-voz de uma força tarefa?

A Lava Jato — seja a operação ela mesma, seja por meio de uma tal "Lava Jato Eleitoral", que nem existência formal tem, está em plena ofensiva publicitária. E com aquela mesma vocação messiânica que empurrou o país para o colo de Bolsonaro e o fez mergulhar num período inédito de trevas em tempos democráticos.