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Reinaldo Azevedo

Salles não existe! É o fogo, a motosserra, o mercúrio e a língua do chefe

Salles e Bolsonaro. Ministro nem é o maior dos amores héteros do presidente no governo. O auxiliar atua como a má consciência do chefe - Adriano Machado/Reuters
Salles e Bolsonaro. Ministro nem é o maior dos amores héteros do presidente no governo. O auxiliar atua como a má consciência do chefe Imagem: Adriano Machado/Reuters

Colunista do UOL

29/10/2020 07h15

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Ricardo Salles, ministro de Queimadas, Desmatamento e Garimpo Ilegal, sempre tentou ser uma voz influente na extrema direita. É um dos criadores do Movimento Endireita São Paulo. O trocadilho ajuda a fazer dele também ministro do Insulto à Inteligência Alheia. Nunca conseguiu. Não se elegeu nem com a voragem bolsonarista que tomou o país. Mas faz tempo que circula por aí, como uma espécie de chaveiro de alguns endinheirados medianamente influentes.

Lembrem-se de que Jair Bolsonaro não queria um Ministério do Meio Ambiente. Acha que isso é coisa de esquerdista. Pretendia que a área ficasse subordinada ao Ministério da Agricultura. Setores mais lúcidos do agronegócio o convenceram de que seria um desastre misturar a produção agropecuária com as questões ambientais. E estavam certos. Imaginem se a ministra Tereza Cristina tivesse de justificar os desastres ambientais no Pantanal e na Amazônia e, ao mesmo tempo, de defender a sanidade ambiental da nossa soja e da nossa carne.

Bolsonaro manteve o ministério, mas escolheu para o cargo o Sérgio Camargo do Meio Ambiente: Salles. É o cara que detesta a área que é obrigado a gerir. É visível que ele não tem nenhum apreço pelo tema, que despreza os servidores dedicados à causa, que vê com suspeição os órgãos que integram a pasta. E assim faz o tal Camargo à frente da Fundação Palmares. Ambos atuam como inimigos do órgão de Estado sob a sua gestão.

MARIA FOFOCA
Na quinta passada, o ministro do Meio Ambiente desconfiou que o general Luiz Eduardo Ramos havia afirmado a uma coluna do Globo que ele, Salles, gostava de esticar a corda com os militares. Não teve dúvida: chamou Ramos, coordenador político do governo, de "Maria Fofoca". E com uma hashtag: "#mariafofoca". Queria o que conseguiu: gerar uma espécie de corrente nas redes sociais contra o desafeto.

As milícias bolsonaristas se juntaram para malhar o general. Salles ganhou o apoio do deputado Eduardo Bolsonaro e de outros extremistas de direita da Câmara. O presidente na Casa, Rodrigo Maia, saiu em defesa de Ramos no sábado. Escreveu no Twitter: "O ministro Ricardo Salles, não satisfeito em destruir o meio ambiente do Brasil, agora decidiu destruir o próprio governo".

No domingo, a "Maria Fofoca" — Ops! O general Ramos — afirmou que estava tudo certo, que não havia crise. Isso depois de Salles ter admitido que havia exagerado...

O rapaz do movimento "Endireita" resolveu responder a Maia só nesta quarta. Chamou-o de "Nhonho!, numa referência a uma personagem do humorístico mexicano "Chaves". É um dos insultos corriqueiros a que os extremistas bolsonaristas recorrem para desqualificar o deputado.

Será que as confusões que Salles arruma enfraquecem a sua posição no governo? Leiam o que informou Rubens Valente, colunista do UOL, no dia 24:

Em meio a crises de grande repercussão - os incêndios no Pantanal e na Amazônia e o crescimento do desmatamento na Amazônia Legal -, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tomou posse como membro dos conselhos de administração de duas empresas concessionárias de serviço público que administram os aeroportos internacionais de Guarulhos (SP) e de Brasília (DF).

Salles foi indicado aos cargos pela Infraero, empresa pública federal vinculada ao Ministério da Infraestrutura, comandado pelo ministro Tarcísio Freitas. Para que Salles pudesse ocupar o cargo na concessionária GRU Airport, um especialista no setor, o secretário nacional de aviação, Ronei Glanzmann, renunciou à sua posição no Conselho.

Como se sabe, a participação em conselhos gera também um rendimento extra.

O que vai fazer Bolsonaro, agora que seu ministro do Meio Ambiente resolveu encruar uma questão que parecia resolvida, insultando o presidente da Câmara? Pela lógica, nada! Afinal, o ministro tem licença para chutar traseiro de general que serve ao governo. Por que seria diferente com Maia?

Prestem atenção! Não há ministro que represente com tanta propriedade o chefe como Ricardo Salles. Nem o militar Eduardo Pazuello se equipara. Este, bem ou mal, pertence a uma corporação em que a influência do presidente é relativa: o Exército. Salles não! Foi tirado da obscuridade por Bolsonaro e só assumiu a pasta em razão dos maus serviços à área que já havia prestado em São Paulo.

Seguirá sendo no poder o chaveiro de alguns endinheirados que veem a área ambiental como um empecilho para os seus negócios. Os outros ministros, todos eles, têm alguma reserva de pudor e nem sempre aparecem vocalizando as barbaridades que defende o chefe.

Salles não tem dessas coisas. Se seus colegas têm certa preocupação em, vamos dizer, dar uma amenizada no que pensa o presidente — isso vale, calculem, até para o general Heleno —, o ministro do Desmatamento, Queimadas e Garimpo ilegal faz o contrário: não há nada que Bolsonaro pense que ele não possa piorar.

Atualização: informa a Folhaque o ministro Salles agora nega a autoria do tuíte em que chama Maia de "nhonho" e o atribui a uma possível ação de hacker. A conta está suspensa.