Broderagem política: Putin, o homofóbico, exalta masculinidade de Bolsonaro
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Opa! Rolou uma broderagem política entre o quase ditador da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro — que, por aqui, chegou a flertar com a possibilidade de um autogolpe, mas foi malsucedido. A julgar pelas declarações recentes dos chefes das três Forças militares, o intento não se realizará...
Pois é... Nesta terça, em reunião virtual com os chefes de Estado dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o presidente brasileiro teve suas virtudes masculinas exaltadas pelo presidente da Rússia, um notório homofóbico. Naquele país, gays estão proibidos de demonstrar afeto em público, o que pode render cadeia. O pretexto é proteger as criancinhas.
De macheza, Putin entende. Veja-se a sem-cerimônia com que ele pode invadir um país e anexar um pedaço do território, como fez, por exemplo, com a Criméia. Seus adversários políticos dentro da Rússia ou nas nações que considera o seu quintal não costumam ter um bom destino.
Assistam, a propósito, ao excelente documentário "As Testemunhas de Putin", de Vitaly Mansky, que narra os bastidores da ascensão do líder russo à Presidência em 1999. Está no poder até hoje. No interregno em que garantiu a eleição de Dmitri Medvedev (2008-2012), permaneceu como primeiro-ministro, mas mandando de fato.
Mansky exibe cenas dos bastidores da campanha 20 anos depois, inserindo cenas contemporâneas. Tinha em mãos um material rico porque ele próprio participou da equipe de propaganda do candidato. Sua tarefa era registrar as cenas de bastidores. O homem que aparece na tela não é exatamente um democrata. Os registros feitos há duas décadas já revelavam, ainda que mitigados, os traços do Putin de hoje. O que foi registrado como uma elogio, deslocado no tempo, vira crítica mordaz. Mas voltemos.
Putin é um tirano com bastante habilidade política. Já percebeu que, com a derrocada de Donald Trump — com a possibilidade de ir para a cadeia —, Bolsonaro está na pista, em busca de um parceiro de broderagem política. O autoritarismo, a intolerância e a homofobia de ambos se combinam.
E veio, então, o estranho elogio, que Bolsonaro publicou nas suas redes sociais. Na tradução divulgada pelo presidente (incluindo a variação de pronomes), teria afirmado o "brother" russo:
"O senhor expressou as melhores qualidades masculinas e de determinação. O senhor foi buscar a solução de todas as questões, antes de tudo na base dos interesses do seu povo, seu país, deixando para depois as soluções ligadas aos problemas de sua saúde pessoal. Isso é para todos nós um exemplo de relacionamento corajoso com o cumprimento de seu dever e a execução de suas obrigações na qualidade de chefe de Estado. Não foi fácil para todos nós trabalharmos este ano, mas você também enfrentou pessoalmente esta infecção e passou pelas provações com muita coragem. Desejo a você tudo de melhor; em primeiro lugar, saúde. Todos nós vimos como não foi fácil para o senhor."
Bolsonaro já pode começar a se despedir da viuvez. Terá um novo troglodita para chamar de amigo.
A aproximação nem é assim tão exótica, não é? Putin também vai ficar com saudade de Trump, seu chapa. Afinal, os agentes do Kremlin ajudaram a impulsionar, em 2016, a campanha de Agente Laranja que contaminou a Casa Branca e a sabotar a de Hillary Clinton.
"Brother" reacionário conhece "brother" reacionário.
Atenção! A imagem que ilustra este texto é considerada, na Rússia, exemplo de "extremismo". A publicação e retransmissão são proibidas. Divulgá-la, no país, virou um ato de resistência contra a semiditadura putinesca, que só aprecia elementos de exaltação da masculinidade...